Enéada VI, 1, 20 — O agir e o padecer
– Certo, não é preciso que seja o inverso. Contudo, visto que padecer é outra coisa que agir, a paixão não entra no mesmo gênero que a ação. – Sim, se é verdade que os dois são movimentos; eles pertencem ao mesmo gênero: Aristóteles não declara, por exemplo: « A alteração é um movimento segundo a qualidade »? – Mas então, cada vez que o movimento segundo a qualidade procede do agente, a alteração é uma ação, isto é, um agir, mesmo que o agente não sofra afecção? – Se o agente não sofre afecção, ele se encontrará no agir, mas se, agindo sobre outra coisa, batendo por exemplo, ele padece também, ele não age mais. – Mas nada impede que, enquanto age, ele não seja também afetado. Se, portanto, uma ação, por exemplo esfregar, se relaciona com a mesma coisa que uma afecção, por que razão é então agir em vez de padecer? – É porque, sendo esfregado em retorno, padece-se igualmente. – Mas será que, porque há movimento em retorno, vamos sustentar que há dois movimentos para o mesmo agente? Como poderia haver dois? – Na realidade, há apenas um. – Mas como o mesmo movimento é ao mesmo tempo ação e paixão? – Eis. É uma ação quando vem de uma coisa, e uma afecção quando vai para outra coisa, permanecendo o mesmo movimento. Ou vamos dizer que se trata de outro movimento? E como é possível que, ao alterá-lo, um movimento disponha de outra forma o que é afetado, e que o agente não seja afetado por essa disposição? Pois de que maneira seria afetado pelo que faz em outra coisa? É então o fato de o movimento se encontrar em outra coisa que produz essa afecção, a qual não era uma afecção para aquele que age? Mas se é a « razão », a do cisne, que produz a brancura, e se o cisne é tornado branco desde o seu nascimento, vamos sustentar que o cisne sofre uma afecção ao adquirir sua realidade? Seria também o caso se ele recebesse a brancura depois? E se uma coisa faz crescer outra, e essa outra cresce, essa é afetada? Talvez se retruque que há afecção apenas na qualidade. Mas se uma coisa torna outra bela, e essa outra é embelezada, a coisa embelezada sofre uma afecção? Se, portanto, o que embeleza outra coisa se torna pior ou mesmo desaparece, por exemplo o estanho, enquanto o outro se torna melhor, por exemplo o cobre, vamos sustentar que o cobre sofre uma afecção e que o estanho age? E como se poderia dizer que aquele que aprende sofre uma afecção, quando o ato daquele que age passa para ele? Como dizer que há afecção, já que há apenas um ato? – Admitamos que esse ato não seja uma afecção; mas se aquele que aprende é afetado, de onde virá essa afecção? – De qualquer forma, não é porque aquele que aprende não foi ativo. Pois aprender não é como ser golpeado, já que se trata de apreender e de conhecer; o mesmo ocorre com ver.
