Enéada VI, 1, 6 – A relação
No que diz respeito à relação, examinemos o que se segue da seguinte forma: existe uma comunidade de gênero entre os termos em relação ou é de outra maneira que eles se reportam à unidade? E sobre a relação, é da mais alta importância perguntar se este estado, por exemplo, direita e esquerda, dobro e metade, tem uma existência própria, se assim acontece em certos casos, por exemplo no segundo exemplo mencionado, mas não em outros, por exemplo no primeiro exemplo, ou se nunca acontece assim. O que dizer a este respeito do dobro e da metade, do excesso e do defeito em geral, do estado e da disposição, da posição deitada ou sentada, do repouso, e ainda do pai e do filho, do mestre e do escravo, e ainda do semelhante e do dessemelhante, do igual e do desigual, do que age e do que padece, da medida e do medido? A ciência e a sensação são também relativos, uma ao objeto da ciência, outra ao objeto da sensação. A ciência terá de fato, em relação à forma que é seu objeto, uma única e mesma existência conforme ao seu ato, e o mesmo acontecerá com a sensação em relação ao objeto da sensação. E o mesmo acontece ainda para o que age em relação ao que padece, na medida em que um único e o mesmo é produzido. E o mesmo ainda para a medida em relação ao medido quanto à ação de medir. – Mas o semelhante, o que deverá fazer para se tornar semelhante ao semelhante? – Ele não se torna semelhante, visto que há algo que já está presente: a identidade na qualidade. Na verdade, não há nada além da qualidade que está em cada um deles. Os iguais não se tornam iguais tampouco, pois a identidade na quantidade preexiste a esta relação. Esta relação, o que é senão o nosso julgamento quando comparamos coisas que são o que são por si mesmas e dizemos: “Esta coisa e aquela coisa têm a mesma grandeza e a mesma qualidade” e “este homem produziu aquele, e este homem domina aquele”? A posição sentada e a posição em pé, o que são elas além do fato de estar sentado ou em pé? O estado, quando se diz daquele que o possui, significa antes o ter, mas quando se diz de quem é possuído, significa antes a qualidade. O mesmo acontece com a disposição. O que há além dessas coisas que estão em relação mútua, senão nós mesmos que concebemos sua disposição? Ser maior supõe duas coisas, uma de tal grandeza, outra de tal outra, uma sendo diferente da outra. A comparação vem de nós, ela não se encontra nelas. A direita em relação à esquerda, e a frente em relação à atrás, talvez se refiram mais à posição; esta coisa está em tal lugar, esta outra em tal outro, e somos nós que concebemos uma à direita e outra à esquerda, sem que haja nada de tal nelas. O anterior e o posterior, são dois momentos, e somos nós que, da mesma maneira, concebemos um antes e o outro depois.
