Enéada VI, 1, 7 – A relação
Se “um antes e o outro depois” é uma fórmula vazia e se, ao pronunciá-la, proferimos um erro, nenhum desses termos existirá, e a relação será vazia; se, por outro lado, quando dizemos “tal momento vem antes deste e tal outro depois daquele”, dizemos algo verdadeiro, comparando dois momentos e entendendo por “anterior” outra coisa que os substratos dos quais eles são os atributos; se o mesmo se aplica também a “à direita e à esquerda”; se no caso das grandezas, é verdade dizer que sua relação é algo que se encontra fora das quantidades que se comparam na medida em que uma excede e a outra é excedida; se assim acontece ainda, mesmo que não falemos nem pensemos, de modo que isto é o dobro daquilo, que um possui e que o outro é possuído, mesmo antes que tomemos conhecimento; se, além disso, as coisas são iguais umas às outras antes que tomemos conhecimento delas e se, no caso das coisas qualificadas, algumas estão em uma relação de identidade umas com as outras e que, no caso de todas as coisas das quais dizemos que estão em relação, a relação das umas com as outras é posterior aos substratos; e se, finalmente, enquanto a consideramos existente, a relação preexiste ao conhecimento que tomamos dela – pois o que, na existência, resulta da relação é mais evidente –, é preciso então cessar de nos interrogarmos sobre a questão de saber se a relação existe, indicando, ao contrário, que, nos casos desse gênero, para certas coisas, enquanto os substratos permanecem o que são, mesmo que se separem, a relação persiste, enquanto para outras a relação aparece quando os substratos se reúnem, e para outras ainda, mesmo quando os substratos permanecem o que são, a relação ou bem cessa totalmente ou bem se torna diferente, como no caso de “à direita” ou de “perto”, e é desses exemplos que nasce sobretudo a suposição de que não há nada em relações desse gênero. Tendo dado essas indicações, devemos buscar o que há de idêntico em todos os casos, e se esse caráter comum deve ser considerado como um gênero e não como um acidente. Depois, depois de ter encontrado o que há de idêntico, dizer qual tipo de existência é o seu. É preciso, portanto, falar de “relativo” não para o que se diz pura e simplesmente de outra coisa, por exemplo um estado da alma ou do corpo, nem mesmo para dizer que uma alma pertence a este homem ou se encontra em outro, mas não mais nos casos em que a existência não vem de lugar nenhum além da relação. A existência da qual se fala não é a dos substratos, mas a do relativo. Por exemplo, a relação do dobro à metade não confere a existência nem a um comprimento de dois côvados e ainda menos a uma dualidade, nem a um comprimento de um côvado e ainda menos a uma unidade, mas quando essas coisas se encontram em relação, além de serem respectivamente dois ou um, a primeira é dita ser dupla e existir, enquanto a segunda é dita uma e ser a metade. Os dois geram, portanto, juntos, a partir de si mesmos, outra coisa, o fato de ser duplo e o de ser metade, que só advêm um pelo outro, e sua existência não é nada além de uma existência de um pelo outro, pois o dobro vem do fato de exceder a metade, e a metade do fato de ser excedida. Assim, um não é nem anterior nem posterior ao outro, mas é simultaneamente que eles existem. – Mas mantêm-se na existência juntos? – Tomemos o caso do pai e do filho e de outros casos similares: o pai falecido, o filho permanece filho; o irmão morto, o irmão permanece irmão. A prova é que dizemos: “este homem se parece com o falecido”.
