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Enéada VI, 1, 9 – A relação

É preciso, portanto, nos exemplos que acabam de ser mencionados, o do produtor e o da ciência, por exemplo, tomar como certo que a relação é ativa devido à atividade em questão, isto é, da “razão” associada a essa atividade; nos outros exemplos, é preciso tomar como certo que a relação é a participação em uma forma e em uma “razão”. E de fato, se é preciso admitir que os seres são corpos, é preciso dizer que essas relações que se dizem do relativo não são nada. Mas já que damos o primeiro lugar aos incorpóreos, isto é, às “razões”, dizendo que as relações são “razões” e que suas causas são participações em formas, devemos dizer que o próprio duplo é a causa que faz ser o duplo, e o mesmo para a metade. Uns são o que seu nome designa em virtude da mesma forma, enquanto os outros o são em virtude de formas opostas. Pois é ao mesmo tempo que o duplo vem a uma coisa e a metade a outra, que a grandeza vem a uma coisa e a pequenez a outra. Outra possibilidade: uma e outra qualidades se encontram em cada coisa, como a semelhança e a dessemelhança, e em geral o mesmo e o outro. Eis por que a mesma coisa pode ser dita semelhante e dessemelhante, mesma e outra. – O que acontece se um homem é feio, e outro ainda mais feio por participação na mesma forma? – Se fossem absolutamente feios, estariam em pé de igualdade em virtude da ausência da mesma forma. Mas se em um a feiura se encontra em um nível mais elevado, e no outro em um nível menos elevado, é que aquele que é menos feio é tal por participação em uma forma que não o domina, e que aquele que é mais feio é tal por participação em uma forma que o domina ainda menos. Ou isso se explica pela privação, se se deseja fazer essa aproximação, que seria, por assim dizer, uma forma para os dois. Quanto à sensação, é uma espécie de forma que provém dos dois, e o mesmo acontece com o conhecimento. O estado, considerado do ponto de vista da coisa que o possui, é um ato que, por assim dizer, assegura sua coesão, como acontece com uma produção. E a operação de medida é uma atividade que consiste em colocar em relação o que mede com o que é medido: é uma “razão”. Se, portanto, se considera de um ponto de vista genérico a relação como uma forma, será um único gênero e uma existência, no sentido em que há uma “razão” em todos os casos. E se as “razões” são opostos e comportam as diferentes espécies mencionadas, talvez não haverá um único gênero, e será preciso antes considerar que os relativos se reduzem a uma certa semelhança e se reduzem a uma única categoria. Mas mesmo que fosse possível reduzir os relativos mencionados a um único gênero, seria de fato impossível relacionar a um único gênero todas as coisas que eles colocam na mesma categoria. Pois eles relacionam a um único gênero as negações desses relativos e as coisas cujo nome deriva desses relativos, por exemplo, duplo e o que é duplo. Como se pode então reunir sob um único e mesmo gênero um relativo e sua negação, duplo e não duplo, relativo e não relativo? É como se, ao colocar o gênero “animal”, se incluísse igualmente o “não-animal”. Quanto ao duplo e ao que é duplo, como a brancura e o branco, eles não são de modo algum idênticos.

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