Enéada VI, 2, 11 — Eliminar outros gêneros: o uno-ser
É preciso que nos perguntemos como o um está no ser e como se produz o que chamamos «divisão», a deles e mais geralmente a dos gêneros, e se é a mesma divisão ou outra que se produz em um e outro caso. Primeira questão: como, de maneira geral, cada coisa, qualquer que seja, é dita uma e como é uma? Segunda questão: empregamos esse termo no mesmo sentido quando é dito do «um que é» e do um de lá? O termo «um» não apresenta o mesmo sentido em todos os casos. Não tem o mesmo sentido, de fato, conforme se trate dos sensíveis ou dos inteligíveis – mas, na verdade, o ser também não –, e não tem tampouco o mesmo sentido quando se trata dos sensíveis considerados uns em relação aos outros. De fato, não é o mesmo no coro, na exército, no navio, na casa; e não é tampouco o mesmo nessas coisas e no contínuo. E, no entanto, todas essas coisas imitam o mesmo um, mesmo que umas o imitem apenas de longe, enquanto outras o fazem mais de perto; e é no Intelecto que a imitação é de imediato a mais verdadeira. Pois a alma é uma, e o Intelecto é ainda mais um, assim como o ser. – Pois bem, será que para cada coisa, quando dizemos que ela «é», dizemos também que ela é «uma»? E será que seu ser será como sua unidade? – Pode acontecer que isso se produza por acidente, mas uma coisa não é uma à proporção de seu ser, e uma coisa pode não ter menos ser que outra, embora tendo menos unidade. Pois uma exército ou um coro não têm menos ser que uma casa, e, no entanto, têm menos unidade. Parece, portanto, que a unidade que está em cada coisa se assemelha mais ao bem, e quanto mais a coisa obtém de bem, tanto mais também ela é uma; por isso, há mais ou menos unidade segundo haja mais ou menos bem. Pois o que deseja cada coisa, não é simplesmente ser, mas ser com o bem. É por isso que as coisas que não são unas se esforçam, tanto quanto podem, para se tornarem unas; na natureza, as coisas buscam, em virtude de sua natureza própria, unir-se para formar uma só e mesma coisa, porque querem ser unidas a si mesmas. Pois as coisas particulares não buscam afastar-se umas das outras, mas ir umas para as outras e para si mesmas. E todas as almas gostariam de ser apenas uma seguindo sua realidade. O Um, ele, encontra-se dos dois lados, pois é dele que vem a alma e para ele que ela vai; é de fato do Um que ela tira sua origem e para o Um que ela tende, e assim é também para o Bem que ela tende. Pois entre as coisas que vêm à existência, não há nenhuma que, uma vez vinda à existência, suportaria existir sem consagrar seus esforços a tender para o Um. Assim acontece com os seres naturais. Quanto aos produtos da técnica, cada técnica busca conduzir cada um de seus produtos para o um e o bem, na medida em que o pode e na medida em que os produtos o podem. O ser o alcança melhor que todos, pois está muito perto. É o que explica que se chame as outras coisas por seu único nome, «homem», por exemplo: pois mesmo que nos aconteça de dizer «um homem», é por distinção de «dois homens». E se empregamos o termo «um», em outro contexto, é por adição a partir de «homem». Mas, se se trata do ser, dizemos «o um que é» colocando juntos o um e o ser, e apresentando o ser como um fazemos questão de indicar que ele está em estreita relação com o bem. Assim, o um que também está nele desempenha o papel de princípio e de fim, não da mesma maneira que nas outras coisas, mas de outra forma, de modo que no que é um também há anterior e posterior. – O que é então a unidade que está no ser? Não se encontra ela da mesma maneira em todas as suas partes, não é um caráter comum que se observa em todas elas? – É preciso responder, primeiro, que nas linhas o ponto é algo comum, sem ser o gênero das linhas; nos números também há algo de comum, o um sem dúvida, que não é um gênero. Pois o próprio Um não é o um que se encontra na unidade, no dois e nos outros números. É preciso dizer, em seguida, que, no ser, nada impede que haja coisas que vêm primeiro e outras que vêm depois delas, coisas que sejam simples e outras compostas. Enfim, se é o mesmo um que se encontra em todas as coisas que são, ele não pode produzir as espécies na medida em que não há nele diferença; e se não produz espécies, não pode ser ele mesmo um gênero.
