Enéada VI, 2, 19 — Os gêneros primeiros e suas espécies: posição do problema
– Se admitirmos que esses quatro termos são gêneros e gêneros primeiros, será que, tomado em si mesmo, cada um desses gêneros engendra espécies? Por exemplo, o ser tomado em si mesmo já se divide em si mesmo sem que intervenham os outros? – Não, pois é preciso tomar as diferenças específicas fora do gênero, e que, mesmo que essas diferenças pertençam ao ser enquanto ser, elas não são, contudo, o próprio ser. – Onde as tomará, então? – Certamente não de não-seres. Mas se elas vêm dos seres, e se os três gêneros restantes são seres, é claro que as diferenças vêm deles e que lhes são associadas quando se adicionam ao ser, se emparelham a ele e formam um bloco com ele. – Mas, ao formar um bloco, eles produzem efetivamente o ser que resulta de sua totalidade. Como então pode haver «as outras coisas» depois do que resulta da totalidade dos seres? E como os gêneros, já que são a totalidade dos seres, conseguem engendrar as espécies? Como o movimento engendra as espécies do movimento, o repouso as espécies do repouso e assim por diante? Pois é preciso evitar isso: deixar cada gênero desaparecer nas espécies, fazendo do gênero apenas um predicado, como se o considerássemos apenas em cada uma dessas espécies. Mas é preciso considerá-lo tanto em cada uma dessas espécies quanto em si mesmo, e considerar que ele deve ser misturado e também puro e não misturado, e que não deve se dissolver contribuindo de outra forma para a formação de uma realidade. – É preciso examinar essas questões. Pois bem, já que sustentamos que o que é feito da totalidade dos seres é cada intelecto particular, enquanto postulamos que o ser ou a realidade que se encontra antes de todos os seres, considerados como espécies ou como partes, é o Intelecto, dizemos que o Intelecto que já é todos os seres é posterior. Usemos, portanto, a dificuldade presente para fazer avançar nossa pesquisa e, usando-a como um exemplo, ponhamo-nos a caminho para fazer compreender o que queremos dizer.
