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Enéada VI, 2, 2 — O ser, é o uno-múltiplo da segunda hipótese da segunda parte do Parmênides

Na medida em que sustentamos que o ser não é um, é determinado em número ou é ilimitado? – Em que sentido dizemos então que o ser não é um? – Dizemos antes que é ao mesmo tempo um e múltiplo, e que essa unidade é variada no sentido de que é uma unidade que reúne a pluralidade em si. No entanto, é necessário que uma unidade dessa sorte seja ou bem uma à maneira de um gênero cujos seres são as espécies, o que faz com que seja ao mesmo tempo múltiplo e um, ou bem que haja vários gêneros, todos reunidos sob um único gênero, ou vários gêneros dos quais nenhum é subordinado a nenhum outro, mas dos quais cada um abrange os termos que lhe são subordinados, seja de gêneros inferiores ou de espécies compreendendo indivíduos que lhes são subordinados, mas tais que todos constituam uma natureza única, isto é, que todos se reúnam para constituir o mundo inteligível, que é o que chamamos o «ser». Se assim for, são não apenas gêneros do ser, mas ao mesmo tempo também princípios. São gêneros, porque abaixo deles encontram-se outros gêneros inferiores, depois espécies e indivíduos; e são princípios, se o ser é feito de sua multiplicidade, e se o todo obtém deles sua existência. Mas se o ser fosse composto apenas a partir de elementos múltiplos, os conjuntos que resultam da reunião desses elementos produzindo o universo sem ter nada mais sob eles seriam princípios, mas não gêneros. Por exemplo, se alguém fabricasse o mundo sensível a partir dos quatro elementos, o fogo e os três outros, tratar-se-ia de elementos, mas não de gêneros, a menos que o termo «gênero» seja usado de forma equívoca. – Se se diz que se trata de gêneros, mas que são ao mesmo tempo princípios, não vamos aperfeiçoar o todo misturando uns aos outros todos esses gêneros em sua totalidade e com eles cada uma das coisas que lhes são subordinadas, e fabricar assim uma mistura de todas as coisas? – Mas então, cada coisa seria em potência e não em ato, e nenhuma se encontraria mais no estado puro. – Por que não seria possível deixar os gêneros de lado e fazer uma mistura dos indivíduos? – Mas então o que serão os gêneros, tomados em si mesmos? – Permanecerão em si mesmos e no estado puro, e sua mistura não os destruirá. – E como isso é possível? – Se dirá mais tarde. Por enquanto, depois de admitir que há gêneros que ademais são os princípios da realidade, e que, em outro sentido, são esses princípios e sua composição que estão no fundamento da realidade, é preciso primeiro dizer a respeito das coisas que estimamos ser gêneros como as distinguimos umas das outras e evitamos reuni-las sob um gênero único, como se constituíssem uma só e mesma coisa agregando-se ao acaso. Certamente, seria muito mais satisfatório dizer que os gêneros se reduzem a uma só e mesma coisa. – Se fosse possível dizer que os gêneros são espécies do ser e se assim fosse para os indivíduos associados a essas espécies, sem que nada restasse do lado de fora, poderia-se sem dúvida proceder assim. Mas se acontecesse de se fazer isso, tal tese levaria à sua própria destruição. As espécies com efeito não seriam sequer mais espécies; de forma geral, não haveria mais nenhuma multiplicidade sob o um, e de fato, todas as coisas seriam uma, e fora dessa unidade não haveria outras coisas, nem uma sequer. Pois como esse um conseguiria se tornar várias coisas, de forma a gerar espécies, se não houvesse outra coisa fora dele? Não pode de fato em si mesmo tornar-se várias coisas, a menos que se o fragmente como se faz para uma grandeza; mas mesmo assim, o que o fragmenta seria diferente dele. Se, por outro lado, é ele mesmo que se fragmenta e que em geral se divide, deverá ser dividido antes de se dividir. É, portanto, por essa razão e por outras ainda que se deve renunciar a admitir um «gênero único», sem o que não seria mais possível dizer de cada coisa, de forma alguma, que é um ser ou uma realidade. Se se atribuísse a essa coisa o ser, seria por acidente, como se se dissesse que o branco é a realidade. Dizer isso não é dizer o que é o branco.

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