Enéada VI, 2, 21 — Os gêneros primeiros e suas espécies: vinda ao ser da multiplicidade no Intelecto
– Como então o Intelecto, permanecendo um em sua estrutura, produz as coisas particulares? – Isso equivale a perguntar como dos quatro grandes gêneros procede o que, diz-se, vem em seguida. Pois bem, olha como nesse grande, nesse formidável Intelecto, nesse Intelecto onde superabunda não a palavra mas o pensamento, nesse Intelecto que é um conjunto englobante todas as coisas, e que não é nem um intelecto parcial nem um intelecto particular, se encontram todas as coisas que vêm dele. Sim, ele contém em sua totalidade o número que se encontra nas coisas que ele vê, ele é um e muitos, e essa multiplicidade são potências, maravilhosas potências que não mostram nenhum sinal de fraqueza, mas que, porque são puras, são as potências maiores, potências cheias de força, por assim dizer, e isso verdadeiramente e sem limites. São, portanto, potências sem limites, que são infinitude e grandeza. Assim, se vês como estando no Intelecto essa grandeza que acompanha nele a beleza de sua realidade, assim como o brilho e a luz que o cercam, verás também a qualidade que já ali se expande, e com sua atividade contínua verás uma grandeza que se oferece à tua atenção, permanecendo em repouso; isso faz um, dois, e três seres; e em terceiro lugar vem a grandeza, a quantidade toda. E quando vês a quantidade e a qualidade, as duas tendendo para a unidade e tornando-se, por assim dizer, um, vê também a figura. Então a alteridade intervém que separa a quantidade da qualidade, e se vê aparecer diferenças de figuras e depois de qualidade. A identidade, ao se juntar a elas, faz ser a igualdade, e a alteridade, a desigualdade, seja na quantidade, no número ou na grandeza; destas derivam os círculos, os quadriláteros e as figuras de lados desiguais, os números semelhantes e dissemelhantes, os pares e os ímpares. Pois já que se trata da vida de um intelecto, e de uma atividade desprovida de imperfeição, ela não deixa de lado nada do que agora descobrimos ser a obra do Intelecto, mas possui todas as coisas, a título de seres, na atividade que lhe é própria como pode fazê-lo um intelecto. O Intelecto possui todas as coisas como em um ato de intelecção, mas um ato de intelecção que não é discursivo. Ele não deixa de lado absolutamente nada do que há razões; mas é, por assim dizer, uma «razão» única, grande, perfeita, que possui todas as «razões», que as percorre em sua totalidade começando pelas primeiras nele, ou melhor, que as tem sempre percorrido, de sorte que nunca é verdade dizer que as percorre. Pois em geral, em toda parte, tudo o que se pode apreender pelo raciocínio como sendo na natureza, se descobrirá que isso existe sem raciocínio no Intelecto, de modo que se pode crer que o intelecto assim produziu o ser por um raciocínio, à maneira das «razões» que produzem os viventes. Pois o que o raciocínio mais rigoroso pode estabelecer como sendo o melhor, isso se encontra já realizado para todas as coisas, em suas «razões», antes de todo raciocínio. Que se deve esperar do que é anterior à natureza e às «razões» que nela se encontram? Pois nos princípios onde a realidade não é outra coisa senão o Intelecto, e aos quais nem o ser nem o intelecto se adicionam do exterior, tudo será para o melhor sem esforço, se é verdade que tudo se encontra em acordo com o Intelecto e que acontece como o Intelecto quer e como ele é. É por isso que tudo isso é verdadeiro e primeiro. Pois se isso vem de outro, esse outro é o Intelecto. Pois bem, já que é no ser que todas as figuras e a qualidade em seu conjunto apareceram a nossos olhos – não se trata de uma qualidade particular, pois não é sequer possível que uma qualidade particular seja uma, já que a natureza da alteridade se encontra nela, mas ela é uma e muitas, pois a identidade está ali também; um e muitos, o ser o é desde a origem, de sorte que o um e o múltiplo se encontram em todas as formas; diversas são as grandezas, diversas as figuras e diversas as qualidades, pois não é nem possível nem permitido deixar nada de lado; lá, de fato, o todo é perfeito, caso contrário não seria o todo – e já que a vida corre nele ou melhor o acompanha por toda parte, todos os viventes devem necessariamente nascer, assim como todos os corpos, desde que haja matéria e qualidade. Uma vez que todas as coisas nascem sempre e permanecem sempre o que são, uma vez que estão compreendidas no ser por toda a eternidade, uma vez que cada uma delas separadamente é o que é e ao mesmo tempo se encontram todas juntas na unidade, então essa espécie de combinação, essa associação de todos os seres na unidade, é isso o Intelecto. E já que contém em si os seres, é um «Vivente total», o «Vivente-em-si». Mas porque se dá a ver ao que vem dele, torna-se inteligível e assim dá ao intelecto de lá o nome que lhe convém.
