Enéada VI, 2, 3 — O ser, é o uno-múltiplo da segunda hipótese da segunda parte do Parmênides
Sim, dizemos que há vários gêneros e que não é por acaso que há vários gêneros. – É do Um que eles provêm, não é? – Sim, mas mesmo que provenham do Um, dado que esse Um não é um dos predicados que entram na definição de seu ser, nada impede que cada um deles, já que não é da mesma espécie que outro, seja ele mesmo um gênero separado. – Esse Um que se encontra fora deles, é a causa dos gêneros que são gerados, sem ser um predicado que entra na definição dos outros gêneros? – Sim, esse Um se encontra fora deles, pois o Um se encontra além, de sorte que não é contado no número dos gêneros, se é verdade que os outros gêneros, que são iguais entre si enquanto gêneros, existem graças a ele. – E por que não pode ser contado no número dos gêneros? – É que nossa pesquisa incide sobre os seres, não sobre o que se encontra além deles. – De acordo para esse Um além do ser. Mas e quanto ao um que pode ser contado no número dos gêneros? Poderíamos nos surpreender que se encontre no número das coisas causadas. – Sim, se se coloca sob um gênero único esse um e as outras coisas, cai-se no absurdo. Mas, se se conta esse um no número das coisas das quais é a causa, como se fosse o gênero supremo e que as outras viessem em sua sequência – as coisas que vêm em sua sequência são diferentes dele, e ele não é predicado delas nem a título de gênero nem como outra coisa que as concerne –, então é necessário que essas coisas que vêm na sequência do um sejam elas também gêneros, pois também têm outras coisas abaixo delas. Pois, se geramos a marcha, não somos tampouco o gênero do qual a marcha seria a espécie. E supondo que não haja nada anterior à marcha que seja um gênero, mas que haja espécies posteriores à marcha, a marcha seria um gênero para os seres. Mas, em geral, não se deve sequer dizer que o um é a causa dos outros seres. Deve-se antes dizer que os outros seres são como as partes, isto é, como os elementos, e que todos constituem uma só e mesma natureza que é dividida pelos atos de nosso intelecto, enquanto esse um se encontra ele mesmo um em todas as coisas por sua potência maravilhosa que ao mesmo tempo lhe permite parecer ser muitas coisas e tornar-se muitas coisas, como se, cada vez que está por assim dizer em movimento, devido à sua natureza que superabunda, o um faz que o um não é um, enquanto nós, fazemos como se houvesse partes do um, avançamos relacionando cada uma dessas partes a uma unidade, e dizemos que é um gênero, desconhecendo o fato de que não vemos tudo ao mesmo tempo. Avançamos, ao contrário, indo de uma parte a outra, depois ligando de volta essas partes umas às outras, porque não somos capazes de as reter muito tempo enquanto se apressam umas para as outras. Por isso as deixamos ir para o conjunto e lhes permitimos tornar-se um, ou melhor, ser um. Mas isso será sem dúvida mais claro quando soubermos o que vem em seguida, e quando tivermos compreendido quantos gêneros existem; então, compreenderemos igualmente por que é assim. No entanto, uma vez que em nossa exposição não devemos nos limitar a declarações, mas que nos é necessário chegar a conceber e compreender o que as palavras querem dizer, procederemos da seguinte forma.
