Enéada VI, 2, 8 — Os cinco gêneros primeiros: O Ser, o Repouso e o Movimento; O Mesmo e o Outro
– Na verdade, nos é preciso postular que esses gêneros são em número de três, se é verdade que o intelecto os apreende separadamente. Assim que o intelecto os pensa, ele os postula, e se os pensa, eles são, se é verdade que são pensados. Pois as coisas cuja existência está associada à matéria não têm sua existência no intelecto; em contrapartida, as coisas que são desprovidas de matéria, ser apreendidas pelo intelecto, nisso consiste a existência para elas. Considera o Intelecto, o Intelecto puro, e fixa nele seus olhares, sem te servires desses olhos. Pois bem, vês o foco da realidade e uma luz que nele não adormece, e como ele se mantém imóvel em si mesmo e como ele é diferenciado, vês um ser onde tudo está junto, uma vida permanente e um pensamento que não se exerce sobre o que está por vir, mas sobre o «já», ou melhor, sobre o «já e sempre já», isto é, sobre o que está sempre presente, e vês como, ao pensar, ele está em si mesmo e não fora de si mesmo. É, portanto, no ato de pensar que consistem sua ação e seu movimento, assim como é no ato de se pensar a si mesmo que consistem sua realidade e seu ser; de fato, é porque ele é que ele pensa e que ele se pensa a si mesmo como sendo; e sobre o que, pode-se dizer, ele se apoiava, é um ser. Pois enquanto sua ação, essa ação que ele exerce sobre si mesmo, não é uma realidade, o objetivo e o ponto de partida dessa ação, é o ser; de fato, é o que é visto que é o ser, não a visão; contudo, a visão também possui o ser, porque o que é seu ponto de partida e seu objetivo é um ser. Ora, porque ele está em ato, não em potência, ele opera, em um movimento inverso, a reunião dessas duas coisas, isto é, ele não as separa, mas se identifica ao seu objeto e identifica seu objeto a si mesmo. Ora, o ser, porque é de todas as coisas o ponto de apoio mais seguro e aquilo ao redor do qual as outras coisas se organizam, deu existência ao repouso e o possui não como algo estranho, mas como algo que dele provém e que se encontra nele. Para onde tende o pensamento é um repouso sem começo, e de onde ele parte é um repouso que nunca teve início: um movimento não encontra seu ponto de partida em um movimento e nem tende para um movimento. Além do mais, enquanto a forma, que está em repouso, é o limite do intelecto, o intelecto é o movimento da forma. Consequentemente, todas as coisas são ser, movimento e repouso, e são gêneros que penetram tudo, e cada uma das coisas que vêm depois deles é um certo ser, um certo repouso e um certo movimento. Pois bem, quando alguém viu esses três gêneros, quando fixou seu olhar na natureza do ser, quando, por intermédio do ser que está em si mesmo, viu o ser, quando, por intermédio dos outros gêneros que estão em si mesmo, viu os outros gêneros que estão no ser, isto é, quando viu o movimento que está no ser por intermédio do movimento que está em si mesmo, quando viu o repouso que está no ser por intermédio do repouso que está em si mesmo, e quando, enfim, fez corresponder essas coisas com aquelas, quando, por um lado, encontrou essas coisas que advêm todas juntas, e que estão, pode-se dizer, confundidas, abstendo-se de distingui-las, e quando, por outro lado, ele as, pode-se dizer, um pouco separou, reteve, distinguiu, dirigindo seus olhares para o ser, o repouso e o movimento, que são três gêneros dos quais cada um é um, não os disse outros uns em relação aos outros, não os separou na alteridade e não viu a alteridade que está no ser, porque postulou que há três gêneros e que cada um é um? Ao contrário, porque postulou que esses três gêneros se reduzem a um só, que se encontram em uma só coisa e que todos são uma só e mesma coisa, reduzindo-os por outro lado à identidade e dirigindo seus olhares para ela, não viu a identidade advir e ser? Consequentemente, a esses três gêneros é necessário adicionar estes dois: o mesmo e o outro, de sorte que, para todas as coisas, o total dos gêneros é cinco, o mesmo e o outro permitindo às coisas que vêm depois deles serem as mesmas e outras; cada uma, de fato, é também um certo mesmo e um certo outro; pois se fossem tomados absolutamente, sem o «um certo», o mesmo e o outro teriam o status de gênero. E são também gêneros primeiros, porque não lhes atribuirás nenhum atributo que se encontre na definição de seu ser. Sem dúvida, lhes atribuirás o ser, pois são seres, mas não o ser enquanto gênero, pois nenhum é precisamente um ser determinado. Além disso, não é diferente para o movimento e para o repouso, pois não são espécies do ser. Entre os seres, de fato, uns podem ser considerados como espécies do ser, enquanto outros participam do ser. Por sua vez, o ser participa desses gêneros, mas não como se fossem gêneros do ser, pois não são superiores ao ser, e não são anteriores a ele.
