Enéada VI, 3, 27 — Repouso
Sobre o repouso, que é o oposto do movimento, ou da imobilidade, o que se deve dizer? Devemos torná-lo um gênero particular, ou devemos reduzi-lo a um gênero entre aqueles que evocamos? Talvez seja melhor reservar o termo «repouso» às coisas de lá e buscar aqui embaixo apenas a imobilidade? A propósito da imobilidade, é preciso antes de tudo perguntar o que ela é. Se ela parece ser idêntica ao repouso, está-se errado em buscá-la aqui embaixo onde nada está em repouso, e onde o que parece estar em repouso é apenas um movimento mais tranquilo; se, ao contrário, dizemos que a imobilidade é diferente do repouso, porque o repouso consiste em estar totalmente desprovido de movimento, enquanto a imobilidade consiste para uma coisa em estar parada, cada vez que , estando por natureza destinada ao movimento, seu movimento cessa; na realidade, se se diz que «ser imóvel» é «tornar-se imóvel», quer-se dizer com isso que se trata de um movimento que ainda não cessou, mas que está em vias de parar; e se, enfim, se diz que é uma imobilidade que se aplica ao que não se move mais, deve-se em primeiro lugar procurar saber se há aqui embaixo algo que não está em movimento. – Mas se não é possível para uma coisa mover-se segundo todas as espécies de movimentos e se é preciso, antes, que ela não se mova segundo certas espécies de movimento para que possamos designar por «isso» o que está em movimento, o que se pode dizer de uma coisa que não tem movimento local, mas que é imóvel em relação a esse tipo de movimento, senão isto: «ela não está em movimento»? Nesse caso, a imobilidade será a negação do movimento, o que significa que ela não estará em um gênero. – Mas algo é imóvel apenas em relação a essa espécie de movimento que é o movimento local. A imobilidade significa, portanto, a negação desse movimento. – E se se dissesse: «Por que não sustentar que é o movimento que é a negação do repouso?» – Porque, replicaríamos, o movimento vem trazendo algo consigo, é algo outro que age, empurra, por assim dizer, o sujeito e produz ou destrói mil coisas, enquanto a imobilidade de cada coisa não é nada fora dessa coisa, e indica apenas que não haverá movimento. – Por que, então, nos inteligíveis, não dizer igualmente que o repouso é a negação do movimento? – Porque não é sequer possível dizer que o repouso é a abolição do movimento, visto que a existência do repouso não é determinada pela parada do movimento, mas que, enquanto o movimento existe, o repouso existe também. Além disso, lá, o repouso não se diz de uma coisa que não se move, embora esteja em sua natureza mover-se, mas de uma coisa que, na medida em que o repouso a mantém, está em repouso, e que, estando em movimento, não cessará de mover-se. É por isso que ela está em repouso pelo Repouso e está em movimento pelo Movimento. Mas aqui embaixo uma coisa é movida pelo movimento, mas é imóvel por sua ausência, privada do movimento que lhe é devido. Em seguida, é preciso ver o que acontece com o repouso aqui embaixo, procedendo assim. Cada vez que alguém passa da doença para a saúde, ele cura; mas que espécie de imobilidade oporemos, então, a esse movimento que é a cura? Se é seu ponto de partida, trata-se da doença, não do repouso. Se, por outro lado, é seu ponto de chegada, é a saúde, o que não é a mesma coisa que o repouso. Ora, dizer que a saúde ou a doença é uma espécie de repouso, isso equivale a dizer que a saúde e a doença são espécies de repouso, o que é absurdo. E dizer que o repouso é um acidente da saúde, isso equivale a dizer que, antes do repouso, a saúde não é a saúde? Mas sobre essas questões, que cada um tenha a opinião que quiser.
