Da ordem dos demônios venusianos (Ficino)
Ficino, 1594
Certamente, o demônio venusiano é um amor tríplice. Os platônicos situam o primeiro na Vênus celeste, isto é, na própria inteligência da mente angélica. O segundo reside na Vênus vulgar, que representa a capacidade da alma do mundo para gerar. Esses dois são chamados demônios porque se encontram entre a beleza e sua privação, como já mencionado anteriormente e como será explicado em maior detalhe adiante. O terceiro corresponde à ordem dos demônios que acompanham o planeta Vênus. Esses demônios são distribuídos em três ordens: os que pertencem ao elemento fogo, os que pertencem ao ar puríssimo e os que se encontram no ar mais denso e nebuloso. Todos são chamados de heróis, ou seja, amantes, derivado da palavra grega ἔρως, que significa amor.
Os primeiros lançam flechas de amor sobre aqueles homens em que predomina a bile, ou seja, o temperamento colérico e ardente. Os segundos atingem aqueles em que predomina o sangue, um humor aéreo. Os terceiros direcionam suas flechas para os indivíduos em que predominam a fleuma e a atrabílis, humores aquosos e terrenos. Todos os homens são feridos pelas flechas do amor, mas quatro tipos o sentem de maneira especial. Como Platão demonstrou no Fedro, as almas que seguem Júpiter, Febo, Marte e Juno—isto é, Vênus—são especialmente afetadas, pois, desde os primeiros momentos de sua existência, inclinam-se naturalmente ao amor. Elas tendem a amar, sobretudo, aqueles que nasceram sob as mesmas estrelas. Assim, os jovianos sentem-se fortemente atraídos por outros jovianos, os marciais pelos marciais, e o mesmo ocorre com os demais, conforme suas afinidades estelares.
