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Ficino (TP:1.5) – acima da alma mutante há o anjo imutável

Até aqui encontramos acima da compleição do corpo uma forma, que chamaremos a alma razoável, cuja essência permanece sempre a mesma, o que mostra a estabilidade da vontade e da memória. Mas sua operação muda pelo fato de não conceber tudo ao mesmo tempo, mas sucessivamente, e de não ser em um instante, mas com o tempo, que nutre, desenvolve e engendra o corpo. Sua potência natural é permanente, porque sua força natural guarda eternamente sua energia sem se intensificar nem se relaxar. Sua potência adquirida varia, porque passa da potência ao ato, do ato ao hábito, e inversamente. Heráclito, Varrão e Manílio se elevaram até este ponto.

Mas é preciso subir mais alto, porque esta forma não pode ser o princípio de toda a natureza. A operação estável que realiza perfeitamente sua obra em um instante é evidentemente mais perfeita que aquela que precisa do tempo. A vida que no mesmo momento é inteiramente unida a si mesma, não se afastando de si mesma, é mais completa que aquela que, prolongada através dos diversos instantes da duração, é de certa forma distraída de si mesma em seus atos e afecções intrínsecas. Consequentemente, acima da forma cuja atividade extrínseca está espalhada no tempo e cuja vida, isto é, a atividade intrínseca, se derrama em uma espécie de fluxo, é preciso colocar outra forma mais nobre, cuja operação seja estável, cuja vida inteira seja ao mesmo tempo bem uma. Com efeito, é preciso sempre colocar o que é perfeito antes do que é imperfeito, pois, assim como é perfeito em um gênero o que é tal por sua natureza, assim é imperfeito o que não é tal por si mesmo, de outra forma seria inteiramente perfeito. Se, portanto, o imperfeito não existe por si mesmo, é necessário que ele exista por algo que lhe é superior.

Da mesma forma, o que é movido lança-se da potência e da inação ao ato e busca um termo para seu movimento e um fim, como se não se bastasse a si mesmo, mas precisasse da coisa para a qual se dirige por seu movimento. Ora, acima do que passa do repouso ao ato existe sempre algo que é ato perfeito e eterno. Acima do que é transformado por causa de sua indigência existe necessariamente algo que, ou porque jamais falta de nada, ou porque já está preenchido, não se move. É evidente que quando uma coisa, movida por um desejo de perfeição, muda, ela só pode progredir pela aquisição de uma natureza melhor e mais elevada e não possui o bem que busca por meio do movimento, mas o obtém ao termo de seu movimento, não de si mesma (por que teria que mudar?) mas de um outro mais rico.

O que por sua natureza carece de limite deve ser aperfeiçoado por outro mais perfeito. Ora, por si mesmo um ser móvel carece de limite, porque não repousa em si mesmo e se tal ser fosse o princípio das coisas, não haveria estabilidade nos seres, porque efetuaria todas as coisas em função de sua operação mutável. Na realidade, tal estabilidade nos seres é tão necessária que o próprio movimento não está isento de repouso. Com efeito, se uma coisa que se diz afetada de uma maneira ou de outra pelo movimento não permanecesse idêntica em sua substância durante algum tempo, suas afecções não mudariam e não variariam pouco a pouco, mas cessaria inteira em um instante. Mesmo a revolução tão ordenada dos céus ao redor do mesmo centro e dos mesmos polos, a igualdade dos movimentos, o retorno dos astros têm sua parte de estabilidade. Ora, assim como o que é estável o é em razão de sua imitação e torna-se um na estabilidade (o que explicaremos em outro lugar), assim o que é movido se move em função do repouso e se estabiliza no movimento. Move-se, digo, em função do repouso, isto é, em função de uma certa estabilidade da potência motriz. E se esta estabilidade não perseverasse em sua firmeza, nenhuma ordem seria conservada no movimento e mesmo o movimento não continuaria ou continuaria por pouco tempo. Além disso, é estável em seu movimento, isto é, continua a ser movido segundo uma lei que é idêntica, igual ou semelhante. Numerosos mesmo são os seres que, embora movidos segundo uma certa espécie de movimento, são contudo imóveis sob o aspecto das outras espécies de movimento. Estes seres estão, portanto, parcialmente em movimento e parcialmente em repouso. Acrescente-se a isso: sendo a matéria primeira eterna, o que muda em função de sua forma substancial é contudo constrangido ao mesmo tempo a permanecer idêntico em função de sua matéria. Portanto, com mais razão, o que sob o aspecto da quantidade, da qualidade ou do lugar está sujeito à mudança, pode e mesmo deve permanecer ao mesmo tempo imóvel sob o aspecto da substância. O que mais dizer? O que de nenhuma forma permanece idêntico perdendo a estabilidade, é constrangido a perder ao mesmo tempo todo movimento. Se, portanto, há alguma estabilidade nas coisas, o princípio das coisas não pode ser instável. Portanto, o que é instável não é o princípio das coisas. Há consequentemente algo acima da alma, para que a alma que por sua natureza é indiferente a compreender ou a não compreender, já que passa alternadamente de um ao outro, seja determinada a compreender pela influência do que em tal gênero está sempre em ato. Tal é o que é sempre inteligente ou sempre inteligível em ato: o que é a mesma coisa.

Até agora encontramos acima da compleição do corpo uma forma, que chamaremos alma racional, cuja essência permanece sempre a mesma, o que mostra a estabilidade da vontade e da memória. Mas sua operação muda pelo fato de que não concebe tudo ao mesmo tempo, mas sucessivamente e que não é em um instante, mas com o tempo, que nutre, desenvolve e engendra o corpo. Sua potência natural é permanente, porque sua força natural guarda eternamente sua energia sem se intensificar nem se relaxar. Sua potência adquirida varia, porque passa da potência ao ato, do ato ao hábito, e inversamente. Heráclito, Varrão e Manílio ascenderam até aqui. Mas é preciso subir mais alto, porque esta forma não pode ser o princípio de toda a natureza. A operação estável que completa perfeitamente sua obra em um instante é evidentemente mais perfeita do que aquela que precisa de tempo. A vida que no mesmo momento está inteiramente unida a si mesma, não se afastando de si mesma, é mais completa do que aquela que, prolongada através dos diversos instantes da duração, é de certo modo distraída de si mesma em seus atos e afetos intrínsecos. Consequentemente, acima da forma cuja atividade extrínseca se espalha no tempo e cuja vida, isto é, a atividade intrínseca, se derrama em uma espécie de fluxo, é preciso colocar outra forma mais nobre, cuja operação seja estável, cuja vida inteira seja ao mesmo tempo bem uma. De fato, é preciso sempre colocar o que é perfeito antes do que é imperfeito, pois, assim como é perfeito em um gênero o que é tal por sua natureza, assim é imperfeito o que não é tal por si mesmo, caso contrário seria inteiramente perfeito. Se, portanto, o imperfeito não existe por si mesmo, é necessário que ele exista por algo que lhe é superior. Da mesma forma, o que é movido se lança da potência e da inação ao ato e busca um termo para seu movimento e um fim, como se não se bastasse a si mesmo, mas precisasse da coisa para a qual se dirige por seu movimento. Ora, acima do que passa do repouso ao ato existe sempre algo que é ato perfeito e eterno. Acima do que é transformado por causa de sua indigência existe necessariamente algo que, ou porque nunca lhe falta nada, ou porque já está preenchido, não se move. É evidente que quando uma coisa, movida por um desejo de perfeição, muda, só pode progredir pela aquisição de uma natureza melhor e mais elevada e não possui o bem que busca por meio do movimento, mas o obtém no termo de seu movimento, não de si mesma (por que deveria ter mudado?) mas de outro mais rico. O que por sua natureza carece de limite deve ser completado por outro mais perfeito. Ora, por si mesmo um ser móvel carece de limite, porque não repousa em si mesmo e se tal ser fosse princípio das coisas, não haveria estabilidade nos seres, porque efetuaria todas as coisas em função de sua operação mutável. Na realidade, tal estabilidade nos seres é tão necessária que o próprio movimento não está isento de repouso. De fato, se uma coisa que se diz afetada de uma maneira ou de outra pelo movimento não permanecesse idêntica em sua substância por algum tempo, suas afecções não mudariam e não variariam pouco a pouco, mas cessariam inteiramente em um instante. Mesmo a revolução tão ordenada dos céus em torno do mesmo centro e dos mesmos polos, a igualdade dos movimentos, o retorno dos astros têm sua parte de estabilidade. Ora, assim como o que é estável o é em razão de sua unicidade e se torna um na estabilidade (o que explicaremos em outro lugar), assim o que é movido se move em função do repouso e se estabiliza no movimento. Move-se, digo, em função do repouso, isto é, em função de uma certa estabilidade da potência motriz. E se essa estabilidade não perseverasse em sua firmeza, nenhuma ordem seria conservada no movimento e mesmo o movimento não continuaria ou continuaria por pouco tempo. Além disso, é estável em seu movimento, isto é, continua a ser movido segundo uma lei que é idêntica, igual ou semelhante. Numerosos mesmo são os seres que, embora movidos segundo uma certa espécie de movimento, são contudo imóveis sob o aspecto das outras espécies de movimento. Esses seres estão, portanto, parcialmente em movimento e parcialmente em repouso. Acrescenta-se a isso: sendo a matéria primeira eterna, o que muda em função de sua forma substancial é contudo constrangido ao mesmo tempo a permanecer idêntico em função de sua matéria. Portanto, com mais forte razão, o que sob o aspecto da quantidade, da qualidade ou do lugar está sujeito à mudança, pode e mesmo deve permanecer ao mesmo tempo imóvel sob o aspecto da substância. Que dizer mais? O que de forma alguma permanece idêntico ao perder a estabilidade, é constrangido a perder ao mesmo tempo todo movimento. Se, portanto, há alguma estabilidade nas coisas, o princípio das coisas não pode ser instável. Portanto, o que é instável não é o princípio das coisas. Há, consequentemente, algo acima da alma, para que a alma que por sua natureza é indiferente a compreender ou a não compreender, já que passa alternadamente de um ao outro, seja determinada a compreender pela influência do que em tal gênero está sempre em ato. Tal é o que é sempre inteligente ou sempre inteligível em ato: o que é a mesma coisa.

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