Luz (Ficino, 1476) – Luz visível, racional, inteligível, divina
Em verdade, o intelecto adverte para não nos elevarmos tão subitamente a essa sublime contemplação, mas subirmos por graus para não sermos ofuscados e o menos possível cegados pelo esplendor (splendor) da luz. “Não confies nos sentidos, ó minha razão: a vista não te instrui suficientemente, quanto aos outros sentidos, nada te ensinam. Porque a vista é uma luz relativa aos sentidos, só pode receber e transmitir um esplendor sensível; e reciprocamente, porque só pode receber e transmitir um esplendor sensível, sabes que é uma luz relativa aos sentidos. Toda progressão se torna então impossível ].
“Mas agora, aprende isto: eu, a inteligência, sou uma luz de certo modo intelectual, pois meu objeto é a luz inteligível que busco em tudo o que pode ser buscado e encontro em tudo o que pode ser encontrado, porque a luz de cada ser é ao mesmo tempo sua verdade. Assim, a verdade é uma luz interior e a luz uma verdade que se desdobra exteriormente ].
“Aprende agora isto: tu, a razão, és uma luz de certo modo racional e uma razão luminosa, pois é raciocinando que buscas tão avidamente a razão da luz como tua própria origem. Mas queres buscar mais adequadamente a razão da luz? Busca-a na luz de toda razão: é ali que está a razão da luz e de todos os seres, ali descobres, na soberana verdade que é ela mesma soberana certeza e clareza, a verdade e a clareza da luz, pois são idênticas a clareza e a verdade dessa luz que buscas ].
“O que é a luz em Deus? A imensa exuberância de sua bondade e verdade. O que é nos anjos? A certeza da inteligência emanada de Deus e a alegria transbordante de sua vontade. O que é nos corpos celestes? A abundância da vida nos anjos, o desdobramento do poder no céu. O riso do céu ]. O que é no fogo? Uma força vital enxertada pelos corpos celestes, uma propagação eficaz. A graça descida do céu naquilo que é desprovido de sentido. A alegria do espírito e a força dos sentidos naquilo que é dotado de sentido. Enfim, a efusão da íntima fecundidade em todas as coisas, e por toda parte, a imagem da bondade e verdade divinas.”
