Ullmann: Nicolau de Cusa
Excertos de “PLOTINO, UM ESTUDO DAS ENÉADAS”, de R. A. Ullmann
Seria impossível entender-lhe o pensamento, sem o vincularmos a Eckhart. Do Uno, que contém virtualmente tudo, procede a multiplicidade das coisas. Aliás, já Santo Tomás escrevera, referindo-se a Deus, com uma citação de Dionísio Areopagita: “(…) na causa de tudo é mister que preexistam todas as coisas segundo uma união natural”1). E, desse modo, as coisas, que são diversas e opostas em si, em Deus preexistem como uma só coisa, sem prejuízo da sua simplicidade.
Na linguagem do Cusano, o fato de em Deus tudo existir como unidade denomina-se complicatio2). No Uno não há distinção de outreidades. O mundo, com sua multiplicidade, é o desdobramento da riqueza infinita da essência divina. Não se trata, aqui, de panteísmo, porque este concebe o universo como Deus, ao passo que o Cusano o concebe a partir de Deus.
O Cusano chama de explicatio3).)) o desdobramento do Uno. Esse desdobramento é o mundo, o qual é por Deus, de Deus e em Deus. Evidentemente, aqui se revela o neoplatonismo plotiniano, através do Areopagita. O universo existe como participação, méthexis do Uno. Por outra, o mundo não se identifica com Deus, mas se distingue dele. Logo, o Cusano não pode ser tachado de panteísta, mas panenteísta, ou seja, Deus é transcendente e, ao mesmo tempo, imanente às coisas.
