Faculdade Passiva
Plotino 3.6 4 (18-23)
Agora devemos examinar a faculdade da alma chamada passiva. Certamente, ela já foi discutida de certa maneira quando tratamos de todas as paixões relacionadas à faculdade irascível e à faculdade desejante e mostramos como cada uma ocorre. No entanto, ainda há mais a dizer sobre esse assunto, começando por entender o que realmente é a faculdade passiva da alma.
De modo geral, admite-se que é justamente nessa faculdade que parecem se constituir as paixões, que são seguidas de prazer e dor. Entre as paixões, algumas se originam de opiniões, como quando uma pessoa pensa que vai morrer e isso gera medo, ou quando ela tem a ideia de que um certo bem lhe ocorrerá e se alegra. Assim, a opinião se encontra em um lugar, enquanto a paixão é desencadeada em outro. Outras paixões se impõem por si mesmas, sem uma escolha deliberada, e arrastam uma opinião para dentro da faculdade naturalmente feita para julgar. Já dissemos anteriormente que a opinião não afeta a faculdade que julga. No entanto, o medo que surge de uma opinião vem de cima e proporciona uma espécie de compreensão à faculdade da alma, de modo que se diz que ela sente medo.
Então, o que produz esse medo? Um distúrbio e um choque, que, dizem, são causados pelo pressentimento de um mal. É evidente que essas imaginações estão na alma, primeiro como uma opinião e depois como algo que não é uma opinião, mas sim uma opinião obscura e uma imaginação indistinta, como aquelas que existem naquilo que chamamos de “natureza” e cuja atividade produz cada coisa sem representá-las, como dizem os estoicos. A partir daí, surge o distúrbio perceptível no corpo—arrepios e tremores, palidez e incapacidade de falar. Certamente, tudo isso não diz respeito a uma “parte” da alma. Se a alma experimentasse tudo isso, deveríamos dizer que ela é corpórea. Nesse caso, essas afecções nem sequer chegariam ao corpo a partir da parte que as envia, pois essa parte não teria mais energia para enviá-las, se estivesse tomada pela afecção e privada de si mesma.
De fato, essa faculdade da alma, que é passiva, não é um corpo, mas uma certa forma. No entanto, a faculdade desejante está na matéria, assim como aquela que permite a nutrição, o crescimento e a reprodução. Essa é a raiz e o princípio da forma tanto da faculdade desejante quanto da faculdade passiva da alma. Mas, de modo geral, para uma forma, não deve haver perturbação nem paixão; ela deve permanecer em repouso. A matéria é onde ocorrem as paixões, sendo a forma o motor que as conduz quando está presente nela. A potência vegetativa, por exemplo, quando faz as plantas crescerem, não cresce por si mesma; quando promove o aumento de tamanho, ela própria não aumenta, e, de maneira geral, não se move enquanto gera movimento, pois não se move de forma alguma; caso contrário, seu movimento e seu ato seriam de outra natureza. Portanto, a própria natureza da forma deve ser um ato que produz efeitos por sua presença, como se uma harmonia colocasse em movimento as cordas de um instrumento por si mesma.
Assim, a faculdade passiva da alma será a causa da paixão, cujo movimento ela produz, com ou sem imaginação sensorial. Além disso, devemos examinar se a faculdade passiva é a causa da opinião que vem de cima. No que diz respeito à faculdade passiva, ela permanece imóvel, como uma harmonia. As causas do movimento são comparáveis ao músico, e as partes abaladas pela paixão às cordas do instrumento. Nesse caso, não é a harmonia que sofre, mas sim a corda. No entanto, a corda não se moveria, mesmo que o músico quisesse, se a harmonia não o exigisse.
