eidos (Montet)
(…) o conceito de eidos, que significa antes de mais a aparência, o modo como uma coisa se mostra, oferece-se ao olhar e apela na dimensão da visibilidade, como a raiz do termo implica. O texto platónico ainda não obliterou completamente este significado: no Banquete, comparando Sócrates a figuras satíricas, Alcibíades declara:
“O que é certo, Sócrates, é que pelo menos os teus traços (tô ge eidos) têm uma semelhança com os que mencionei, uma semelhança que tu próprio, sem dúvida, não poderias contestar” (Banquete 215 b).
A aparência de um rosto, o porte de um indivíduo, o modo como ele se mostra e se apresenta dizem muito sobre o que ele é, traem-no no seu ser, assim originalmente exposto, desvelado. Tanto no seu sentido original como no teórico, o eidos testemunha uma experiência de visibilidade concebida no modo de interpelação. Tal como, para Homero, o sorriso de um deus pode desabrochar no brilho da espuma do mar, a sua passagem pode ser sentida na rajada de vento que varre o espaço circundante, pois a declinação de um mundo no recorte do visível é sempre divina, assim o eidos, “a ideia”, revela uma experiência do ser no golpe da visibilidade, mesmo que se trate de uma visão puramente noética.
