DOUTRINA DA ALMA

Antes porém convém saber a verdade acerca da natureza da alma divina e humana, atendendo a suas atividades e a suas paixões. Começaremos da seguinte maneira:

Toda alma é imortal. Efetivamente, tudo o que se move eternamente é imortal, pois o que é veículo de movimento ou o que é movido de fora, uma vez cessado o movimento deixa de viver. Só aquilo que se move a si mesmo, como nunca está fora de si, nunca deixa de receber movimento e além disso é a origem e o princípio do movimento para todas as coisas que se movem. Um princípio, sem dúvida, que não foi gerado. Tudo o que existe, inevitavelmente se deriva de um princípio; ora, o princípio de nada pode derivar-se, pois se se derivasse de algo não seria princípio. Por outro lado, se não foi gerado tampouco pode ser destruído. Com efeito, se o princípio se destruísse, nem ele mesmo poderia nascer de nada, nem nada poderia nascer dele, já que tudo tem que ser necessariamente gerado por esse princípio.” Por conseguinte, o que é princípio do movimento move-se a si mesmo e não pode nem desaparecer nem ser gerado em momento algum, pois, de outro modo, abatendo-se todo o céu e a terra, ficariam imóveis e não teriam mais nada que pudesse comunicar-lhes movimento. Uma vez posto que o que se move a si mesmo é imortal, ninguém poderá deixar de reconhecer que precisamente é essa a essência da alma. Todo corpo movido de fora é inanimado e tudo o que se move de dentro, por si mesmo é animado, de maneira que é esta a natureza da alma. Sendo que o que se move a si mesmo é a alma, esta necessariamente não tem princípio nem fim.

Explicamos já suficientemente a natureza imortal da alma. Falaremos agora de sua forma. Para dizer o que é em si mesma, faltariam palavras divinas e uma longa exposição; para dar uma imagem sua e dizer ao que se parece, bastam as palavras menos complicadas dos homens. Diremos que a alma é como o grupo que formam uma parelha de cavalos alados e o homem que os conduz. Os corcéis e os cocheiros das almas divinas são todos excelentes e de estirpe nobre; porém, os das almas restantes possuem uma natureza dupla. O cocheiro que há em nós segura as rédeas, mas um dos cavalos é bom e formoso e de puro sangue enquanto que o outro é totalmente o contrário. Por força há de ser difícil e embaraçoso conduzir uma tal parelha. Ora, o que devemos indagar é por que alguns seres são chamados mortais e outros imortais. Toda alma governa o inanimado e gira em torno do universo, apresentando-se sob mil formas diferentes. Quando é perfeita e alada, tudo abarca do alto onde está e dirige o mundo inteiro; porém quando está privada de asas, precipita-se até aderir a algo sólido, penetra-o como se fosse sua própria morada e assim se apodera de um corpo terrestre, que parece mover-se por si mesmo em virtude da força que ela lhe empresta. A este composto da alma e do corpo que a ela está aderido é o que se chama ser vivo e se lhe dá o nome de mortal. Quanto ao ser imortal, como não podemos inferir o que é só por seu nome, embora sem vê-lo nem compreendê-lo, imaginamos que se trata de alguma divindade, de algum ser imortal, que tem alma e corpo, e que estes elementos estão assim unidos por toda a eternidade. Seja porém como for, e como melhor agradar à divindade, ocupar-nos-emos agora das causas que dão origem à queda das asas quando se desprendem da alma.

A virtude das asas consiste em levantar para o alto as coisas pesadas, elevando-as até onde habita a linhagem dos deuses, e ali entram em comunicação com a divindade mais estreitamente que todas as coisas relativas ao corpo. O divino é o bom, o sábio, o belo, e tudo o que a eles se refere. Destas coisas se nutrem e se desenvolvem as asas do espírito, enquanto que todas as coisas contrárias, o feio e o mau, servem para dissolvê-las e destruí-las. Ora, o grande ordenador celeste, Zeus, avança em primeiro lugar conduzindo o carro de corcéis alados, tudo ordenando e governando. Segue-o o exército dos deuses e dos espíritos, agrupados em onze esquadrões, pois Héstia permanece sozinha no palácio dos deuses. Os demais, incluídos nesse número dos doze, dirigem cada um como general um esquadrão na ordem que lhes está consignada. Certamente são inumeráveis e maravilhosos os espetáculos do firmamento e as trajetórias que percorrem os deuses bem-aventurados, quando cada um leva a cabo a revolução que lhe está reservada. Após eles avança todo aquele que deseja e é capaz de segui-los, pois a inveja está excluída do espaço celeste. Quando se encaminham para o festim que os espera, galgam por caminhos escarpados até o mais alto da abóboda celeste; os cavalos dos deuses, como são dóceis e de fácil manejo, o fazem sem dificuldade, porém os outros se arrastam penosamente. O cavalo de má qualidade sobe pesadamente, inclina-se para a terra e torna difícil a manobra do cocheiro que não o soube domar. Enfrenta então a alma um trabalho e uma luta extremos. E as almas que chamamos imortais, uma vez chegadas ao mais alto, se detêm sobre a abóboda celeste, e lá postadas são arrastadas também pelo movimento circular e contemplam tudo o que se acha fora do firmamento.

Poeta algum jamais cantou nem poderá cantar suficientemente a região supraceleste. As coisas se apresentam deste modo — pois é preciso ter a coragem de dizer a verdade, sobretudo quando se fala da verdade —. A essência incolor, impalpável e sem forma que realmente é, aquela que só o entendimento que governa o espírito pode contemplar e sobre a qual versa o conhecimento da verdade, ocupa esse território. Assim como a inteligência de Deus, nutrida pelo entendimento e pelo conhecimento sem mescla, também a inteligência das almas sôfregas de receber o alimento que lhes corresponde, quando chega a contemplar o ser a seu tempo, sente satisfação, e contemplando a verdade regozija-se e alimenta-se até que por fim a revolução circular a transporte para o mesmo lugar de onde partiu. Durante o tempo que dura esta revolução, contempla a própria Justiça, a Sabedoria; contempla também o Conhecimento, não o que está implicado no acontecer das coisas ou dos que chamamos seres em nossa existência atual, mas o conhecimento que versa sobre o que realmente é o ser. E depois de ter visto e visitado as outras coisas que desta maneira são realmente; submergindo-se de novo no interior do céu, volta a sua casa. E uma vez lá chegada, o cocheiro, instalando seus corcéis junto à mangedoura, oferece-lhes nela ambrosia e depois lhes dá de beber néctar.

E assim é a vida dos deuses. Quanto às outras almas, a mais excelente, pondo-se ao encalço dos deuses e a eles querendo assemelhar-se, levanta para o lado exterior do céu a cabeça de seu cocheiro e é arrastada no movimento circular, embora seus cavalos não a deixem mover-se livremente e só com dificuldade pode contemplar as coisas que são.

Ainda outra, por vezes levanta a cabeça, ou então a desvia e, como os cavalos o impedem, vê umas coisas e outras não. As demais seguem o cortejo, porque todas sentem o desejo de elevar-se; mas como não o podem, são arrastadas em sua impotência, pisoteiam-se e empurram-se umas às outras, e todas disputam ficar na frente. Reina ali o tumulto, a luta, o suor opressivo; muitas delas são feridas pela imperícia de seus cocheiros, outras ficam com as asas partidas. Enfim, após haverem passado trabalhos sem conta, afastam-se todas elas sem chegar à contemplação perfeita do ser, e quando já se afastaram se veem obrigadas a recorrer à opinião como alimento. E eis porque é tão generalizado o desejo de ver o lugar onde se encontra a planície da verdade: em seus prados está precisamente o alimento que mais convém à parte egrégia da alma; dele se nutrem as asas que levantam a alma e a tornam leve.

Veremos agora o que decretou Adrasteia. A alma que tomou parte no cortejo de um deus e chegou a ver algumas das verdades, estará livre de trabalhos até a revolução seguinte, e, se for capaz de sempre fazer o mesmo, encontrar-se-á eternamente livre de penalidades. Porém, se não teve forças para seguir docilmente os deuses e nada chegou a ver e por motivo de algum acidente infeliz, tomada pelo esquecimento e pela corrupção, embotados os seus movimentos, e assim, prostrada, perdeu sua plumagem e caiu por terra, é lei que não poderá instalar-se dentro do corpo de nenhum animal na geração imediata. A que tiver visto o maior número de coisas irá inserir-se no germe de um homem que há de ser amigo da verdade, da beleza ou da música, ou entendido cm coisas de amor. A que se segue a esta alma, quanto à quantidade de coisas que viu, incorporar-se-á a um rei justo. A alma da terceira ordem instalar-se-á em um governante, em um administrador ou em um financista. A de quarta ordem, em um ginasta esforçado ou naquele que sabe curar os males do corpo. A de quinta ordem formará parte da existência de um adivinho ou de quem realiza alguma iniciação. Da sexta ordem será a alma do poeta ou daquele adestrado em qualquer gênero de imitação; à sétima ordem pertence a alma do artesão ou do lavrador; à oitava, a alma do sofista e a do demagogo; à nona, a do tirano.

Entre todas estas, a que haja vivido na terra de maneira mais justa terá uma parte melhor, mas a que haja vivido na injustiça não a terá tão boa. Pois cada alma não retornará ao mesmo ponto de onde saiu antes de dez mil anos; antes desse momento não recobra suas asas, a menos que se trate de um homem que tenha amado a verdade lealmente ou instruído os jovens no amor da filosofia. Estas almas, na terceira revolução de mil anos, se escolheram esta classe de existência três vezes seguidas, chegam a recobrar suas asas e no fim dos três mil anos se afastam. Quanto às outras, uma vez chegadas ao término de sua primeira existência ficam submetidas a um julgamento, e, quando julgadas, umas se encaminham às prisões que se acham debaixo da terra para lá saldarem suas contas e outras se elevam com leveza para alguma região do céu em virtude da sentença correspondente, e ali lhes espera uma existência que é digna da vida que levaram na terra quando possuíam forma humana. Umas e outras ao fim do primeiro milênio aproximam-se do momento de deitar sortes e de escolher sua próxima existência, de maneira que cada uma escolhe a que quiser. É quando uma alma que habitou um corpo de homem pode instalar-se no de um animal, e ao contrário, do animal pode emigrar ao homem aquela alma que de outra vez já habitou no homem, pois a alma que nunca viu a verdade jamais poderá adotar a forma humana. Convém certamente que o homem chegue à intelecção através do que se chama a ideia, passando das diversas impressões ao que está reunido em uma só coisa graças ao razoamento. E isto não é outra coisa senão a lembrança daquilo que nossa alma contemplou quando caminhava na companhia de um deus, quando via do alto todas as coisas que agora dizemos que existem e levantava os olhos para o que realmente é. Por isso é justo que só o pensamento de um filósofo tenha asas, visto que se aplica incessantemente e na medida de suas forças a evocar na memória aqueles objetos aos quais também a divindade atende e por isso é divina. Também o homem que usa devidamente esta classe de evocações e chega à perfeição dos mistérios, faz-se realmente perfeito. Ao separar-se dos cuidados dos homens e. dedicar-se à contemplação das coisas divinas, repreendem-no as pessoas por- estar fora de si, porém na realidade está endeusado, está no seio de Deus, e as pessoas não se apercebem.

Neste ponto pode-se reatar minha explicação acerca da quarta forma de loucura. Quando o homem vê a beleza daqui de baixo e lembra-se da verdadeira beleza, sente que as suas asas lhe crescem, e com elas, embora não o possa, tenta elevar-se pelos ares; semelhante a um pássaro, dirige sua vista para o alto fugindo das coisas da terra, e há motivos suficientes para mostrar a aparência de um louco. Assim que, de todas as classes de entusiasmo, este é o melhor e o que contém os elementos mais excelentes, tanto para quem está de posse dele como para a pessoa à qual se comunica, e de todos os que participam desta loucura e amam os jovens belos se diz que estão loucamente enamorados. E é que, segundo vimos dizendo, as almas dos homens, todas por sua natureza, contemplaram as coisas que são; de outro modo, não teriam vindo a eles. Porém, o avivar a memória de todas aquelas coisas pela presença das que estão diante de nós não é tarefa fácil para todas as almas, seja por haverem entrevisto rapidamente os objetos de lá, seja porque ao descerem sobre a terra infelicitaram-se ao ponto de se inclinarem à injustiça por alguma classe de contatos e relações humanas, esquecendo assim os objetos divinos que contemplaram antes de descerem à terra. São muito poucas as almas que possuem suficientemente a capacidade de recordar. E quando veem algo que parece cópia das coisas de lá, são tomadas de perturbação e não mais são donas de si mesmas. Não sabem na realidade de que se trata, porque não se encontram em condições de perceber distintamente. Sem dúvida, a justiça, a sabedoria e todas as coisas que são dignas de estima para as almas, não possuem nenhum brilho em suas imagens terrestres; são muito poucos os que através de alguns órgãos imperfeitos chegam com dificuldade a entrever o original aproximando-se às imagens e ao que nelas está representado. Era maravilhoso contemplar a beleza então, quando no coro dos bem-aventurados assistíamos a Um espetáculo e a uma visão beatífica, nós mesmos seguindo um deus, aqueles no cortejo de outro, e os seres se iniciavam, de entre todos os mistérios, naquele que maior beatitude e felicidade proporciona. Esse mistério o celebrávamos na integridade e na autenticidade de nosso ser, livres dos males que depois nos esperavam, iniciados como estávamos nos mistérios das coisas íntegras, simples, imóveis e felizes; e como éramos puros, todas essas visões as contemplávamos na luz resplandescente e pura, sem sinal algum deste que chamamos corpo e agora arrastamos como uma concha. Basta porém de recordações. A elas cabe a culpa de que eu sinta agora a nostalgia das coisas passadas e de que minhas palavras se façam tão prolixas. Ora, a beleza, que é do que se trata, resplandecia em sua essência entre aquelas outras essências. E uma vez que chegamos aqui, a que percebemos através do órgão dos sentidos mais diáfano que possuímos é também a beleza, em toda sua radiante luminosidade. A vista é, sem dúvida, a percepção mais sutil das que nos chegam pelo corpo. O pensamento, no entanto, não é percebido pela vista. E se fosse capaz de fornecer-nos alguma imagem viva de sua própria essência, tanto ele como as outras essências inspirariam o mais profundo amor no homem. Porém até agora unicamente a beleza foi agraciada com a virtude de ser a mais evidente e a mais amável ao mesmo tempo. Aquele que não foi iniciado recentemente ou sucumbiu a alguma corrupção, não é capaz de ascender subitamente daqui àquelas regiões, para a beleza mesma, contemplando as coisas que aqui trazem seu nome; não ousa aventurar seu olhar para cima, cheio de veneração, mas, abandonando-se ao prazer, imita em suas maneiras os animais, entrega-se às desordens sexuais e habituando-se ao excessos não tem escrúpulo algum nem se envergonha de procurar os prazeres, ainda que violentando a natureza. Pelo contrário, o que foi recentemente iniciado e contemplou muitas das essências de então, quando vê um rosto de aparência divina que é cópia fidedigna da beleza ou alguma outra forma corporal, sente em primeiro lugar um estremecimento, como se o invadisse algum dos terrores de outrora; a seguir, arrisca seu olhar e adora o que viu como se fosse uma divindade, e se não temesse parecer completamente louco faria sacrifícios em honra da pessoa amada, como se fazem diante de unia imagem ou de um deus. Tudo o que se segue ao estremecimento, o arrebatamento de fogo e o suor, nele se manifestam à medida que continua olhando. E é que, ao receber a emanação da beleza através dos olhos, se inflama e as asas da alma se reanimam com seus eflúvios; sob essa temperatura se fundem os elementos germinativos que pela ação de um endurecimento haviam se contraído e não podiam crescer. À medida que o alimento a ele aflui, o cálamo das penas se entumece e sente um impulso de crescimento em sua própria raiz que se comunica a todo o volume da alma. E é que, antes, a alma foi toda alada e então se sente agora em ebulição e quer saltar, e aquele mesmo mal-estar da dentição que se produz em volta dos dentes no momento preciso em que se vão romper, esse mesmo desassossego e prurido sente a alma quando as asas começam a crescer; sente-se em ebulição, excita-se e experimenta o comichão do crescimento. Pois bem, quando olha a beleza do jovem e recebe a corrente de partículas que fluem e avançam para ela (por isso se lhe dá o nome de “desejo”), a alma se reanima e se inflama, descansa de sua dor e enche-se de gozo. Porém, quando se encontra ausente e em um estado de completa secura, as saídas dos condutos por onde as asas abrem seu caminho se obstruem e secam, impedindo o crescimento da plumagem. Este crescimento, estancado e aprisionado com o desejo no interior da alma, irrompe como se fora uma pulsação, morde cada um dos condutos germinativos, de tal modo que a alma, aguilhoada por todas as partes, debate-se e sofre, ao mesmo tempo que se inunda de gozo ao recordar a beleza que contemplara. Nesta confusão de sentimentos contraditórios e absurdos a alma se atormenta, e não encontrando a maneira de lhes escapar, enfurece-se. Em seu delírio, nem descansa à noite nem consegue aquietar-se de dia, e acorre frenética para onde espera ver a beleza apetecida. De novo a vê, e então, ao receber outra vez o eflúvio dos desejos, tudo o que estivera obstruído se abre, a alma recobra seu alento, vê-se livre das dores e das terríveis mordeduras, e nestes momentos experimenta um dos prazeres mais intensos de sua vida. Por nada do mundo quereria a alma separar-se dessa situação, e já nada lhe importa mais que o jovem belo a quem ama. Mãe, amigos, irmãos, tudo esquece. Não dá importância alguma aos bens que perdeu por não cuidá-los devidamente. Os bons costumes e as maneiras de que pouco antes se vangloriava, agora deprecia profundamente e está disposta a aceitar a escravidão, a pôr-se a dormir onde a queiram deixar, onde mais perto possa estar do ser que ama, porque além da veneração que tributa ao mancebo formoso, nele encontrou o único remédio que possa curar-lhe de seus maiores padecimentos. Pois bem, este afeto, ó jovem belo a quem meu discurso é dirigido!, os homens denominam amor, mas os deuses o conhecem por um nome que, se o ouvires, é muito fácil que te ponhas a rir com a alegria e a jovialidade de teus poucos anos. Creio que foram os homéridas aqueles que separaram estes dois versos de seu precioso repertório épico; dois versos dedicados ao amor, dos quais o segundo é algo impetuoso e, por outro lado, não de muito boa métrica. Dizem assim:

Os homens chamam-no Eros voador,
porém os imortais Pteros, porque faz crescer as asas [Platão cria um neologismo, configurando segundo o modelo Eros a lavra Pteros (de um verbo pteron = dar asas, por asas)].

(Fedro, 245 c-252 b.)

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