eidos

gr. eídos: aparência, natureza constitutiva, forma, tipo, espécie, ideia. (gr. eidos, idea) Apesar da frequência e sobretudo da importância da noção em sua obra, Platão não define jamais explicitamente a “forma inteligível”. Os termos gregos de eidos ou de idea não podem jamais serem traduzidas pelo termo “ideia”, que designa inelutavelmente, desde Descartes pelo menos, uma representação, quer dizer um objeto mental. Ao contrário, as formas inteligíveis são realidades imutáveis e universais, independentes dos intelectos que os percebem. Elas são além do mais as únicas realidades, posto que é em participando das formas inteligíveis que todas as coisas existem. (Luc Brisson)


eídos: aparência, natureza constitutiva, forma, tipo, espécie, ideia

1. Eidos era um termo já bem enraizado e mesmo bastante sofisticado muito antes de ser consagrado por Platão. O seu primeiro significado, e o uso é corrente em Homero, é «aquilo que se vê», «aparência», «forma», normalmente do corpo, e a filosofia pré-socrática continuou a usá-lo neste sentido (ver Empédocles, frgs. 98, 115 e Demócrito, citado em Plutarco, Adv. Col. 1110). Na época de Heródoto o eidos, e o seu cognato a idea que entrara em uso, fora alargado e abstraído no sentido de «propriedade característica» (I, 203) ou «tipo» (I, 94). O uso que Tucídides faz é semelhante (ver III, 81), e num caso (II, 50) ele fala do «eidos da doença», expressão que conduz à expansão do termo em círculos médicos contemporâneos. Aqui eidos/idea tinha aparentemente sido isolado como termo técnico, frequentemente ligado à noção de poder (dynamis), e significando algo mais ou menos como «natureza constitutiva» (ver Hipócrates, V. M. 15, 19; Nat. hom. 2, 5; De arte 2).

2. Seja qual for a interpretação exata dos últimos textos, parece evidente que houve um relacionamento com a forma das coisas que não estava necessariamente ligada à sua aparência exterior (embora a sua conexão com a dynamis sugira que a sua identificação repousava numa consciência dos seus efeitos visíveis), mas antes a alguma espécie de inteligibilidade interior (De arte 2 liga de modo significativo o eidos com a imposição de nomes; ver onoma).

3. Terá havido um desenvolvimento paralelo entre os filósofos? Tanto Platão como Aristóteles parecem sugerir que houve, Platão num raro relance pela história da filosofia (ver endoxon), diz que as exposições sobre a natureza da realidade se polarizaram em facções, as quais ele designa como Gigantes e Deuses. Os primeiros são materialistas (Soph. 246a-248a; confrontar as atitudes algo diferentes mas paralelas no Fédon 96a-d e Leis X, 889a-890a) e Platão refere-se provavelmente à tradição atomista. Os Deuses, por outro lado, são descritos como «amigos dos eide» (ibid. 248a-249d) e sustentam uma teoria da realidade suprassensível que não é distinta da de Platão. Não são os eleatas visto que acreditam numa pluralidade de tais entidades (ver on).

4. A sua identidade foi procurada num passo de Aristóteles onde nos informam (Metafísica 987a-b) que Platão seguiu os pitagóricos em muitos aspectos, atribuindo a Platão apenas diferenças verbais dos pitagóricos e alguns aperfeiçoamentos introduzidos sob a influência de Crátilo heraclítico e do próprio Sócrates.

5. Teriam sido os pitagóricos os pais da teoria dos eide? Houve quem assim pensasse, argumentando, inter alia, com o ambiente fortemente pitagórico do Fédon onde a teoria é proposta por Platão pela primeira vez. Mas, pouco há que fundamente isto com base estritamente pitagórica e a afirmação é isolada em Aristóteles, acrescentada talvez quando ele chegou à conclusão que Platão identificara os eide com o número (arithmos). (Peters)

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