Enéada I,1,5 — Aporias concernentes ao sujeito das paixões

5. Este Animado poderia ser meramente o corpo como tendo vida: poderia ser a Parelha de Alma e corpo: poderia ser uma terceira entidade formada de ambos.

A Alma por sua vez – aparte da natureza do Animado – deve ser ou impassível, meramente causando Percepção-de-Sentido em seu companheiro, ou simpatizante; e, se simpatizante, pode ter experiências idênticas com seu companheiro ou experiências meramente correspondentes: desejo por exemplo no Animado pode ser algo bastante distinto do movimento ou estado que o acompanha na faculdade de desejo.

O corpo, o corpo-vivo como o conhecemos, consideraremos mais tarde.

Vamos tomar primeiro a Parelha de corpo e Alma. Como poderia o sofrimento, por exemplo, estar assentado nesta Parelha?

Poderia ser sugerido que algum estado não bem-vindo produzisse uma angústia que alcançasse uma Faculdade-Sensitiva que por sua vez amalgamasse com a Alma. Mas este relato ainda deixa inexplicada a origem da sensação.

Outra sugestão poderia ser que tudo se deve à opinião ou juízo: algum mal parece ter caído sobre o homem ou seus pertences e esta convicção estabelece um estado de problema no corpo e no Animado por inteiro. Mas este relato ainda deixa um questão quanto à fonte e assento do juízo: pertence ele à Alma ou à Parelha? Além do mais, o juízo que o mal está presente não envolve o sentimento de pesar: o juízo poderia muito bem surgir e o pesar sem dúvida segui-lo: pode-se pensar a si mesmo com desprezo e ainda assim não estar indignado; e o apetite não é necessariamente excitado pelo pensamento de um prazer. Estamos, assim, nenhum pouco próximos do que antes de qualquer prova para prescrever estas afetividades à Parelha.

Seria uma explicação dizer que o desejo está investido em um Faculdade-de-desejo e indignação na Faculdade-Irascível e, coletivamente, que toda tendência está assentada na Faculdade-Apetitiva? Tal afirmação dos fatos não ajuda em direção às afetividades comuns à Parelha; elas ainda poderiam estar assentadas seja na só Alma ou só no corpo. Por outro lado se a o apetitivo for excitado, como na paixão carnal, deve haver um calor no sangue e na bile, um estado bem definido do corpo; por outro lado, o impulso para o Bem não pode ser uma afetividade conjunta, mas, como certas outras também, pertenceria necessariamente só a Alma.

A Razão, então, não nos permite prescrever todas as afetividades à Parelha.

No caso do desejo carnal, certamente será o homem que deseja, e no entanto, por outro lado, deve haver desejo na Faculdade-Desejante também. Como pode ser isto? Devemos supor que, quando o homem origina o desejo, a Faculdade-Desejante atende à ordem? Como poderia o Homem ter vindo a desejar a não ser através de uma atividade a priori na Faculdade-Desejante? Então é a Faculdade-Desejante que tem o comando? No entanto, como, a não ser que o corpo esteja primeiro na condição apropriada?