Enéada VI,9,5 — O Uno é absolutamente simples e é o princípio de todas as coisas

Capítulo 5: O Uno é absolutamente simples e é o princípio de todas as coisas.
1-12. Deve-se ascender da Alma ao Intelecto.
12-20. O Intelecto compreende todas as formas na multiplicidade.
20-38. A multiplicidade dos inteligíveis não pode coincidir com o Uno, pois o Uno é simples; sendo além do Intelecto e das formas, o Uno delas é portanto a fonte.
38-46. O nome “Uno” nos permite indicar a unidade indivisível do princípio, que não é uma unidade matemática ou geométrica.

5. Quem quer que imagine que os seres são governadas pela fortuna e pelo azar, e que devem sua coesão a causas corporais, está longe de deus e da noção do Uno. Nosso discurso não se dirige a esses, mas àqueles que estabelecem uma natureza distinta dos corpos e que remontam até a alma. Mas é preciso ainda que tenham bem compreendido a natureza da alma, e suas outras características, principalmente que ela vem do intelecto e que possui a virtude em participando à razão que vem do intelecto. Após isso, é preciso admitir que há um Intelecto diferente do intelecto que raciocina e que se chama «racional»; que os raciocínios já estão de certa maneira na extensão e no movimento; que as ciências propriamente ditas são razões na alma que se tornaram claras porque o intelecto se tornou, na alma, causa das ciências. E quando, à maneira de um objeto sensível apreendido por uma percepção, se viu o intelecto que se eleva além da alma da qual é o pai, porque é um mundo inteligível, é preciso dizer que é Intelecto em repouso e movimento imóvel ao mesmo tempo, pois contém todas as coisas nele mesmo e que é todas as coisas, como uma multiplicidade indistinta e no entanto distinta. Pois as coisas que se encontram no intelecto não são distintas como o são as razões, quando se as pensa uma por uma, e no entanto elas não estão confundidas nele, pois cada uma delas procede separadamente; é também o caso nas ciências: todas suas partes são indivisíveis, mas cada uma delas é separada das outras. Esta multiplicidade que está totalmente junta, o mundo inteligível, logo é o que está junto do Primeiro, e seguindo nosso argumento existe necessariamente se se admite que a Alma existe. Esta multiplicidade a porta na Alma, mas ela não é certamente o Primeiro, porque ela não é nem una nem simples, enquanto o Uno é simples e é o princípio de todas as coisas. Ora, o que precede o que há de mais precioso entre os seres — se é verdade que algo deve existir antes do intelecto, que, mesmo se deseja ser um, não é uno, mas apresenta a aparência do uno, porque não conhece a dispersão, mas resta realmente unido a ele mesmo sem se separar dele mesmo, posto que vem imediatamente depois do Uno, embora tenha tido a audácia de se afastar dele de alguma maneira — esta coisa maravilhosa que é antes dele, é o Uno, que não é um ser. Não digamos «Uno», para evitar de dar o uno como atributo a um sujeito outro que ele. Em verdade, nenhum outro nome lhe convém. Mas posto que certamente é preciso lhe dar um nome, convém chamá-lo «Uno», como se o faz comumente, e não como se fosse uma coisa, depois em seguida «uno». Por esta razão, é difícil de conhecê-lo, e é de preferência conhecido a partir disto que o engendra, a saber a realidade, pois é o intelecto que conduz à realidade. E sua natureza é tal que é a fonte das melhores coisas, o poder que engendra as coisas que são, permanecendo nele mesmo, sem ser diminuído e sem se encontrar entre as coisas que dele derivam. Isso que ainda é anterior a estas coisas, é necessário chamar «Uno», a fim de que com este nome possamos designá-lo uns aos outros, em nos levando a uma noção indivisível e em buscando a unificar nossa alma. Nós não o chamaremos uno e indivisível, como o fazemos com o ponto ou a unidade, pois «uno» tomado neste sentido designa os primeiros elementos da quantidade, que não poderia existir sem a realidade que preexiste nem sem o que precede a realidade. Logo não é na direção daqui de baixo que é preciso dirigir nosso pensamento, mesmo se é verdadeiro que o ponto e unidade são sempre semelhantes às realidades que são simples e que fogem longe da multiplicidade e da divisão.