Enéada VI,9,7 — Para alcançar o Uno, a alma deve se voltar para ela mesma

Capítulo 7: Para alcançar o Uno, a alma deve se voltar para ela mesma.
1-23. A alma deve ser desprovida de forma para poder acolher a natureza primeira.
23-28. Como Minos, que era “familiar de Zeus”, a alma deve se unir ao Uno para o anunciar aos outros.
28-34. O Uno está por toda parte, e portanto devemos buscá-lo em nós mesmos.

7. E se teu pensamento permanece em um estado determinado, posto que não é nenhuma destas coisas, deves te apoiar sobre elas e o contemplar a partir delas. Mas contemple-o sem projetar teu pensamento no exterior, pois ele não se encontra em nenhuma parte e não abandone as outras coisas, mas está sempre presente para quem pode tocá-lo, ausente para que é incapaz. Assim como é impossível, para as outras coisas, de pensar em uma pensando em uma outra e se ocupando de uma outra, e assim como nada é necessário adicionar a isto que é pensado a fim de que seja ele que seja objeto de nosso pensamento, da mesma maneira, no caso do Uno, é preciso saber que não é possível de pensá-lo quando se tem na alma a impressão de uma outra coisa e tanto tempo quanto esta impressão aja; e que não menos é possível à alma, se ela é possuída e dominada por outras coisas, de ser modelada pela impressão do objeto contrário. Mas como se diz da matéria que deve ser absolutamente sem qualidades se ela deve receber as marcas de todas as coisas, da mesma maneira, e mais ainda, é preciso que a alma seja desprovida de forma, para que não haja qualquer obstáculo nela que a impeça de ser preenchida e iluminada pelo primeiro. Se assim vai, é preciso que, se retirando de todas as coisas exteriores, ela se volte inteiramente para o interior, sem se inclinar para nenhuma das coisas exteriores. Ao contrário, é em ignorando todas as coisas, a princípio aquele que provém da sensação, em seguida as formas por sua vez, e em se ignorando enfim ela mesma, que ela deve alcançar à contemplação do Uno; e, unida a ele e tendo, por assim dizer, suficientemente desfrutado de sua companhia, é preciso que ela venha anunciar aos outros, se ela o pode, o que é a frequentação de lá. Eis talvez porque Minos ele também tinha lidado com uma semelhante frequentação que foi dita «familiar de Zeus»; se recordando, tinha estabelecido leis que eram imagens, depois de ter sido fecundado para legiferar pelo contato divino. Ou então, é porque ele estimava os afazeres da cidade indignos dele que queria sempre permanecer lá; e isto poderia bem ser a condição daquele que muito contemplou. «Não está no exterior de nada», diz Platão, mas está com todas as coisas, sem que elas o saibam. Pois elas fogem fora de si, ou melhor, fora delas mesmas. Logo elas não podem apreender aquele que elas fugiram, nem, estando perdidas, buscar um outro, quanto mais uma criança que a loucura teria posto dora de si e não poderia reconhecer seu pai; mas em revanche, aquele que é reconhecido ele mesmo saberá também de onde vem.