De outro lado, Plotino diz, paradoxalmente, que o Uno não pensa, que ele não é o Bem, nem que ele é. Depois afirma que ele é Super-Pensamento, Super-Bondade, Super-Ser. O Uno é epékeina tês ousías, isto é, além do ser ou acima do ser. “Ele basta a si mesmo, nada precisa procurar fora de si, estando acima de todas as coisas (hypèr tà pánta ónta)” (En. VI, 7. 30-32). “Quando dizemos dele ‘o Bem’, não lhe conferimos um atributo, como algo que lhe pertence. Ele é ele mesmo” (En. VI, 7, 38, 4-6). Não há mister usar o verbo “ser”, dizendo: “Ele é o Bem”. Uno e Bem são convertíveis e constituem perfeições simples.
(…) Ele (Uno) não é tudo, nem parte do todo: “Ele é acima das coisas, é a sua causa e ele não é essas coisas” (En. V, 5, 13, 19-20). Noutras palavras, ele transcende a tudo, mas, ao mesmo tempo, está em toda parte. “Se ele estivesse apenas em toda parte, seria o todo” (En. III, 9, 4, 3). Teríamos monismo e não panenteísmo.
Porém, ao Uno não se lhe nega a perfeição encontrada nos outros seres. Se estes existem, é por ser o Uno o princípio deles. Por conseguinte, necessariamente lhes é superior. A existência deles dá-se por participação (Cf. En. V, 5, 4), ou seja, foram feitos. Tendo sido feitos, eles não se identificam com quem os fez (O Uno é “diverso de tudo” — pántôn héteron (En. V, 4, 1, 6); “Ele é só e desprovido das demais coisas” – mónon kaì êremon tôn állôti estí (En. V, 5, 13, 6); “Ele é para além do Ser” — epékeina toú óntos (En. VI, 6, 5, 38); “Ele é o primeiro e acima do ser” – prôtôs autòs kai hyperóntôs autos (En. VI, 8, 14, 43). À saciedade comprovam esses textos que Plotino confere um lugar de destaque ao Uno, acima das demais realidades.). Isso significa que no Uno as criaturas se encontram eminenter. Por outra, “a causa não é a mesma coisa que o causado” (En. VI, 9, 6, 54-55) “a causa de todas as coisas não é nada delas (oudén esti ekeínôn)” (En. VI, 9, 6, 56). “O Uno não pode ser uma das coisas às quais ele é anterior” (En. V, 3, 11, 19).
Por ser a archê de tudo, o Uno é mais perfeito e melhor que seus efeitos: “O criador (poioûn) é melhor do que as coisas criadas, porque é mais perfeito (teleióteron)” (En. V, 5, 13, 38). (ULLMANN)