Escrita (crítica à)
A relação de Platão com a escrituralidade é ambivalente. De um lado, ele parece ter uma atitude de distanciamento em relação à redação de textos escritos; de outro, ele próprio, ao contrário disso, compôs inúmeras (e importantes) obras escritas. Como avaliar esse dado?
As fontes principais da “crítica à escrita” platônica são uma passagem na Carta 7 (340b-345c) e uma no diálogo Fedro (274b-278b). A autenticidade da Carta 7 é controversa (e assim continuará); há unanimidade quanto ao fato de que ela, em todo caso, deriva de uma fonte contemporânea bem informada. O Fedro já foi anteriormente (já Diógenes Laércio 3, 38; diferentemente de Cícero, Orator 42) classificado como uma obra da juventude, o que oferecia a hipotética opção de que Platão mais tarde teria revisado sua concepção. No entanto, critérios linguísticos hoje vastamente reconhecidos (ver Heitsch 1997, p. 231-233) deslocam essa obra para um grupo de diálogos da fase intermediária, que também inclui, por exemplo, a República — a datação mais antiga é ainda defendida por Tomin (1997).
Num debate até hoje acirrado entre uma interpretação esotérica e uma não esotérica de Platão, a avaliação desses dois textos constitui um ponto fulcral. Trata-se essencialmente de saber se e com que certeza podemos deduzir deles a existência de uma DOUTRINA NÃO ESCRITA de Platão, no sentido dos esotéricos, sobretudo Krã-mer, Gaiser, Reale, Szlezák; desde muito é indiscutível que Platão (como qualquer outro autor) sabia mais do que escreveu, o que seria algo trivial. Portanto, a disputa não gira em torno da agrapha dogmata simplesmente, mas também do postulado de uma doutrina platônica especial, descrita como teoria dos princípios (por exemplo Gaiser 2004, p. 295-315): Platão teria reservado essa doutrina à instrução oral, para evitar mal-entendidos (Szlezák 1993a, p. 152-155). A questão da existência de tal doutrina está ligada a questões sobre seu conteúdo objetivo e sua relevância para a interpretação dos textos platônicos — é óbvia a problemática metodológica do procedimento de ler textos existentes à luz de uma teoria que não foi conservada (cf. Tarrant 2000, p. 19-25). Um artigo de um léxico não pode se envolver em tantas questões desse tipo. Portanto, o objetivo a seguir não passará de uma primeira informação sobre os dados textuais. (SCHÄFER)