Audição

A audição, cujo processo parece admitir considerações exclusivamente psicofisiológicas, concerne no entanto a estética e por conseguinte se deixa decifrar não somente em termos de uma recepção pura, mas uma livre decisão de escutar. Obedecer não é etimologicamente ob-audire: se pôr à disposição daquele que diz? — Segundo Paul Ricoeur, “a primeira determinação do dizer não é o falar, mas o par escutar-se clara”. Ou, mais exatamente: escutar (al. horchen) não é possível senão a partir do entender (al. hören); mas entender não é possível senão a partir do compreender. Heidegger o enunciava já em Sein und Zeit (1927); ele o precisará em Unterwegs zur Sprache (1959): “Nós não fazemos senão falar uma linguagem, nós falamos por ela; nós só o podemos porque sempre já escutamos a linguagem. O que aí entendemos? Entendemos a linguagem falar”. A audição nos abre à poesia — ela faz que o “O homem habite enquanto poeta”. (Notions philosophiques)