Excertos de Reale, História da Filosofia
Euclides nasceu em Mégara, onde fundou a escola que recebeu o nome da cidade. Conjecturalmente, os estudiosos consideram que sua vida transcorreu entre 435 a 365 a.C. Foi grande o seu apego por Sócrates. Com efeito, conta-se que, tendo-se deteriorado as relações entre Mégara e Atenas, os atenienses decretaram a pena de morte para os megarenses que entrassem na cidade; mas, apesar disso, Euclides continuou a ir regularmente a Atenas, entrando durante a noite na cidade disfarçado com roupas femininas.
Euclides situava-se entre o socratismo e o eleatismo, como revelam claramente as nossas escassas fontes.
Para Euclides, o Bem é o Uno, concebendo-o com as características eleáticas da absoluta identidade e igualdade de si consigo mesmo. E, da mesma forma como Parmênides eliminava o não-ser, contrário ao ser, Euclides também “eliminava as coisas contrárias ao Bem, sustentando que não existem”. Consequentemente, nessa posição, voltava a não haver lugar para a multiplicidade e para o devir. Ademais, do ponto de vista metodológico, aos argumentos analógicos amplamente usados por Sócrates, Euclides preferiu a dialética de tipo zenoniano e, como nos é relatado, “nas demonstrações, não atacava as premissas, mas sim as conclusões”.
Mas, embora até aqui Euclides pareça pender para os eleáticos, ele se revela socrático tão logo consideramos que ele referenciou ao Uno–Bem toda uma série de atributos especificamente socráticos. Com efeito, relata-se o seguinte: “Euclides afirmou que o Uno é o Bem, que é chamado com muitos nomes: ora sabedoria, ora Deus, ora mente e assim por diante.” Ora, a sabedoria era o conhecimento, que também Sócrates identificava com o Bem. Deus e mente são conotações típicas da teologia socrática, como já vimos. Também a doutrina atribuída a Euclides, de que a virtude é uma só, embora sob diversos nomes, é igualmente socrática.
Euclides, portanto, deve ter visado dar ao socratismo aquele fundamento ontológico que lhe faltava. Em outros termos, nos encontramos diante de uma tentativa rudimentar de fazer aquilo que Platão faria em outro nível.
Euclides e os megarenses posteriores deram um amplo espaço à erística e à dialética, tanto que chegaram a ser chamados de erísticos e dialéticos. Nisso, como já vimos, eles se embebiam nos eleáticos; mas, a bem da verdade, deve-se dizer que o próprio Sócrates prestava-se amplamente a ser utilizado nesse sentido. Provavelmente, Euclides atribuiu caráter de purificação ética à dialética, como Sócrates. Visto que a dialética destrói as falsas opiniões dos adversários, ela purifica do erro e da infelicidade que se segue ao erro.
Os sucessores de Euclides, particularmente Eubulídes, Alexino, Diodoro Crono e Estilpones, adquiriram fama sobretudo por suas afiadíssimas armas dialéticas (que usaram contra os adversários, mas que também utilizaram em jogos vazios de virtuosismo erístico).