Figuras lendárias, sistematicamente opostas às Erínias: se estas últimas representam o espírito vingativo, o gosto pela tortura e pelo tormento aplicados como castigo por toda violação da ordem, as Eumênides encarnam o espírito de compreensão, de perdão, de superação e de sublimação. Essas imagens opostas e correlatas representam as duas tendências da alma pecadora, que hesita entre o remorso e o arrependimento. As Erínias simbolizam a culpa recalcada que se toma destrutiva, o tormento do remorso: as Eumênides representam essa mesma culpa, porém confessada, e que se torna sublimemente produtiva: o arrependimento liberador.
As Erínias são impiedosas: as Eumênides, benévolas, já na Antiguidade, os mesmos espíritos — protetores da ordem social e principalmente da ordem familiar, vingadores de crimes e inimigos da anarquia — eram chamados de Erínias ou Fúrias, quando sua cólera se desencadeava, e de Eumênides, quando se pretendia aplacá-los implorando-lhes a benevolência. Entretanto, essa última atitude pressupunha uma conversão interior que já significava, em si mesma, um retorno à ordem. [Jean Chevalier]