Enquanto a mim, Sócrates, falou Cebete, nada tenho a objetar contra teus argumentos, nem o que alegar para não admiti-los. Porém no caso de Símias ou qualquer outro querer dizer alguma coisa, fará bem em não se conservar calado, pois não sei que melhor oportunidade do que esta poderá encontrar quem se disponha a falar ou a ouvir seja o que for a respeito destas questões.
Eu também, falou Símias, não vejo razão para não aceitar o que foi dito. Dada, porém, a grandeza da matéria e por não confiar muito na fraqueza de matéria e por não confiar muito na fraqueza humana, sou forçado a declarar que ainda alimento algumas dúvidas com respeito ao que foi explanado.
Não é só isso, Símias, falou Sócrates como muito bem te exprimiste, até mesmo nossas proposições iniciais, por dignas de confiança que pareçam, precisam ser consideradas mais a fundo, e, uma vez suficientemente analisadas, estou certo de que acompanhareis a argumentação, na medida da capacidade de compreensão do homem, até que, tudo esclarecido, nada mais tenhais a investigar.
É muito certo o que dizes, respondeu.
Porém devemos senhores, considerar também o seguinte: se a alma for imortal, exigirá cuidados de nossa parte não apenas nesta porção do tempo que denominamos vida, senão o tempo todo em universal, parecendo que se expõe a um grande perigo quem não atender esse aspecto da questão. Pois se a morte fosse o fim de tudo, que imensa vantagem não seria para os desonestos, com a morte livrarem-se do corpo e da ruindade muito própria juntamente com a alma? Agora, porém, que se nos revelou imortal, não resta à alma outra possibilidade, se não for tornar-se, quanto possível, melhor e mais sensata. Ao chegar ao Hades, nada mais leva consigo a não ser a instrução e a educação, justamente, ao que se diz, o que mais favorece ou prejudica o morto desde o início de sua viagem para lá.