E agora, juízes, pretendo expor-vos as razões de estar convencido de que o indivíduo que se dedicou a vida inteira à Filosofia, terá de mostrar-se confiante na hora da morte, pela esperança de vir a participar, depois de morto, dos mais valiosos bens. Como poderá ser dessa maneira, Símias e Cebete, é o que tentarei explicar-vos.
Embora os homens não o percebam, é possível que todos os que se dedicam verdadeiramente à Filosofia, a nada mais aspirem do que a morrer e estarem mortos. Sendo isso um fato, seria absurdo, não fazendo outra coisa o filósofo toda a vida, ao chegar esse momento, insurgir-se contra o que ele mesmo pedira com tal empenho e em pós do que sempre se afanara.
Símias, então, rindo, Por Zeus, Sócrates, interrompeu-o; fizeste-me rir, em que pese à minha falta de disposição para isso. O que penso é que, se os homens te ouvissem discorrer dessa maneira, achariam certo o que se diz dos filósofos – e nesse ponto contariam com a aprovação de nossa gente – que em verdade eles vivem a morrer, sabendo perfeitamente que outra coisa não merecem.
E só diriam a verdade, Símias, como exceção do que se refere a estarem cientes desse ponto, pois, de fato, não sabem de que modo o verdadeiro filósofo deseja a morte, nem como pode vir a alcançá-la. Porém deixemos essa gente de lado e perguntemos a nós mesmos se acreditamos que a morte seja alguma coisa?
Sem dúvida, respondeu Símias.