Fédon 69e-84b — A sobrevivência das almas

Depois de haver Sócrates assim falado Cebete tomou a palavra e disse: Sócrates, tua linguagem é em grande parte excelente, mas o que se relaciona à ama é para os homens um grande tema de inquietude; quem sabe, dizem eles, se, quando ela se separar do corpo, não estará mais em lugar nenhum, mas será destruída, eliminada no dia mesmo que o homem morre? No próprio instante em que ele sai do corpo e dele sai, dispersa-se como sopro ou fumaça, evola-se, deixando, em consequência de existir em qualquer parte. Porque, se ela se recolhesse algures a si mesma, livre dos males que há pouco enumeraste, haveria grande e doce esperança de ser verdade, Sócrates, tudo o que disseste. Mas o fato é que se faz mister de não pequeno poder de persuasão e de muitos argumentos para demonstrar que a alma subsista depois da morte do homem e que conserva alguma atividade e pensamento.

Tens razão, Cebete, respondeu Sócrates. Mas que podemos fazer? Não queres examinar mais de espaço essa questão, para ver se as coisas, realmente, se passam desse modo?

Eu, pelo menos, respondeu Cebete, ouvirei de muito bom grado o que disseres a esse respeito.

Estou certo de que desta vez, continuou Sócrates, quem nos ouvir, mas que seja algum comediógrafo, não poderá dizer que só digo baboseiras e nunca me ocupo com coisa de interesse. Se estiveres de acordo, investigaremos esse ponto.