Fedro 241d-242b — Impossibilidade de continuar neste sentido

Meu caro Fedro, eis tudo o que tenho a dizer. Nada a mais ouviras desta boca. Meu discurso está terminado.

FEDRO: – Pois eu julgava que fosse apenas a metade. Supunha que fosses dizer outro tanto sobre o homem não apaixonado, demonstrando que se lhe devem conceder mais favores e expondo as vantagens que isso nos traz. Por que terminaste aí, caro Sócrates?

SÓCRATES: – Não notaste, meu amigo, que já deixei de falar em ditirambos e passei ao ritmo da epopeia? Não notaste que estou a censurar? Que achas que eu faria se começasse a louvar o outro? Não vês que eu seria tomado de entusiasmo, sob a influência das ninfas às quais manhosamente me entregaste? Dir-te-ei tudo numa palavra: as mesmas coisas que repreendemos em um se acham no outro, mas

transformadas nos seus contrários, isto é, em bem. Será necessário pronunciar um longo discurso a esse respeito? O que já foi dito basta para os dois. Que o meu discurso tenha o destino que merece. Agora, antes que me obrigues a falar mais, vou atravessar o riacho e afastar-me.

FEDRO: – Ainda não, caro Sócrates! Espera até que passe o calor! Acaso não vês que é quase meio-dia [o que se chama a hora do máximo calor]? É melhor esperarmos, conversando, enquanto isso, sobre o assunto discutido. Depois, quando refrescar, iremos.

SÓCRATES: – Oh! Tu és divino com os teus discursos, caro Fedro! És verdadeiramente admirável! Creio que ninguém em sua vida deu origem a tantos discursos, quer os tenhas redigido tu mesmo, quer tenhas instigado outros a fazê-los. A única exceção é o tebano Símias, mas a todos os demais sobrepujaste. Parece-me que agora me provocaste a fazer um segundo discurso.

FEDRO: – O que dizes está longe de me incomodar. Mas como sucedeu isso?