Fedro 248a-248c — Almas não divinas

Essa é a vida dos deuses.

A sorte das outras almas é porém esta:

Elas tudo fazem para seguir os deuses, seu condutor ergue a cabeça para a região exterior e se deixam levar com a rotação. Mas, perturbadas pelos corcéis do carro, apenas vislumbram as realidades. Ora levantam, ora baixam a cabeça, e, pela resistência dos cavalos, veem algumas coisas mas não veem outras. Outras há ainda que, nostálgicas, seguem atabalhoadas acompanhando a rotação, incapazes de se levantar, empurrando-se e derrubando-se umas às outras, quando alguma pretende passar adiante. Há confusão e briga, e abundante suor. Muitas saem feridas, por culpa dos cocheiros. Muitas partem as penas de suas asas. Todas, após esforços inúteis, não conseguindo se elevar até a contemplação do Ser Absoluto, caem, e sua queda as condena à simples Opinião. A razão que atrai as almas para o céu da Verdade é que somente aí poderiam elas encontrar o alimento capaz de nutri-las e de desenvolver-lhes as asas, alimento que conduz a alma para longe das baixas paixões.