Fedro 254e-256a — Psicofísica do amor

Entretanto, o jovem que se vê mimado e honrado como um deus pelo seu amante, tem desperta em si a necessidade de amar. Se antes, os seus amigos ou outras pessoas lhe denegriram esse sentimento, afirmando ser vergonhoso tal consórcio amoroso, e se esses conselhos o afastaram do seu amante, o tempo que passa, a idade, a necessidade de amar e de ser amado, levam-no, de novo, aos braços do amante. Não é desígnio do fado que o malvado ame o malvado e que um homem virtuoso não possa ser amado pelo homem virtuoso. Quando o amado recebe o amante, que desfrutou da sua doçura e do seu convívio, compreende que o afeto de seus amigos e parentes em nada é comparável ao de um amante inspirado pelo delírio. Assim vivem, se veem e se tocam, ora nos estádios, ora em outros lugares. Assim nasce essa emanação que Júpiter, quando amara Ganímedes, chamou de desejo. Esse desejo se insinua no amante, e quando este se encontra cheio dele, transborda. Do mesmo modo que um zéfiro ou que um som refletido por um corpo sólido e polido, também as emanações da beleza, entrando pelos olhos através dos quais – como lhe é natural – atingem a alma, volta esta ao belo, estende as asas e, molhando-as, as torna capazes de gerar novas asas, inundando também de amor a alma do amado. Ele ama, mas sem saber o quê. Nem sabe, nem pode dizer o que aconteceu consigo; assim como um contaminado de oftalmia desconhece a origem de seu mal, assim também o amado, no espelho do amante, viu-se a si mesmo sem dar por isso. Na presença do amado a dor do amante se esvai, e o mesmo sucede com este na presença daquele. Quando o outro está longe, o amante sente tristeza, e da mesma forma esta sacode o amado, porque ele abriga o reflexo do amor – acreditando, contudo, que se trata de amizade, e não de amor. Embora com menor intensidade, deseja aproximar-se do outro, vê-lo, tocá-lo, acariciá-lo, deitar-se ao seu lado e, assim, não tardará a satisfazer o seu desejo. Enquanto está a seu lado, o corcel indócil do amante tem muitas coisas a dizer ao cocheiro. Como recompensa de tantos sofrimentos, ele apenas pede um instante de prazer. O corcel do amado nada diz, mas, sentindo algo que ele não compreende, toma o amante nos braços e cobre-o dos mais ternos beijos.

Não tem forças para recusar os favores que o amigo lhe pede. Mas o bom corcel e o cocheiro resistem, em nome do pudor e da razão.