Protarco – Então, Sócrates, trabalhemos desde já na solução desse problema.
Sócrates – É também o que eu penso.
Protarco – Podes ficar certo de que todos os presentes compartilham tua maneira de pensar. Quanto ao nosso Filebo, é melhor não mexer com quem dorme sossegado.
VI – Sócrates – Ora bem! E como iniciaremos esse debate tão grande e complicado, acerca da tese em discussão? Assim ficará bem?
Protarco – De que jeito?
Sócrates – Dizemos que o Mesmo, como uno e como múltiplo, é identificado pelo pensamento e que circula, agora e sempre, por tudo o que falamos. Semelhante fato não é de hoje nem nunca deixará de existir; trata-se, segundo creio, de uma propriedade inerente ao nosso pensamento, e que jamais envelhece. O jovem que com ele se depara pela primeira vez, exulta como se tivesse achado algum tesouro de sabedoria; no entusiasmo de seu contentamento, não há tema em que ele não mexa, ora enrolando o múltiplo num só, ora desenrolando-o e subdividindo-o, com o que apresta, desde o início, a si próprio, as maiores confusões e a quantos dele se aproximem, ou seja moço ou velho ou da mesma idade que ele, sem poupar pai nem mãe nem seus ouvintes; sim, nem mesmos os animais – pois não me refiro apenas aos homens – nem aos bárbaros uma vez que conseguisse intérprete apropriado.
Protarco – Como, Sócrates! Não vês quantos somos e, ainda por cima jovens? Não receias que nos juntemos a Filebo para atacar-te, no caso de nos ofenderes? Compreendo o que queres dizer; se houver maneira de afastar devagarinho tanta desordem de nossa discussão e de encontrar um caminho melhor que vá dar em nosso argumento, procuraremos acompanhar-te na medida de nossas forças. Nosso tema, Sócrates, não é de importância secundária.
Sócrates – Meninos, o caminho recomendado por Filebo não existe. Não há nem pode haver caminho mais belo do que o que eu sempre amei, mas que perco mui freqüentemente, ficando sempre na maior perplexidade.