XLI – Sócrates – E agora, não há quem não possa julgar com competência acerca do prazer e da sabedoria, para dizer-nos qual dos dois é parente mais chegado do soberano bem e mais estimado pelos homens e pelos deuses.
Protarco – Não há dúvida; mas o melhor será levarmos a discussão até o fim.
Sócrates – Então, consideremos em separado a aquelas três coisas, em relação com o prazer e a inteligência, para sabermos a qual dos dois atribuiremos cada uma delas, segundo o maior ou menor grau de parentesco.
Protarco – Referes-te à beleza, à verdade e à simetria?
Sócrates – Certo. Assim, Protarco, toma primeiro a verdade e, segurando-a fortemente, passa em revista a inteligência, a verdade e o prazer, e depois de os considerares com calma, responde a ti mesmo qual dos dois, o prazer ou a inteligência, apresenta mais afinidade com a verdade.
Protarco – Para que perdermos tempo? A meu ver, a diferença é enorme. Não há coisa mais fútil do que o prazer, já sendo voz corrente dos provérbios que nos prazeres do amor, considerados os maiores, o próprio perjuro encontra graça junto dos deuses, por serem os prazeres, à maneira de crianças, quase destituídos de inteligência. Porém a inteligência, se não for a mesma coisa que a verdade, é o que mais dela se aproxima.
Sócrates – Ao depois, faze a mesma coisa com a medida e declara qual participa dela em grau maior: o prazer ou a sabedoria.
Protarco – Esse novo problema também é fácil de resolver. A meu parecer, na natureza nada há tão imoderado como o prazer e as grandes alegrias, nem mais equilibrado do que a inteligência e o conhecimento.
Sócrates – Ótima conclusão. Vejamos agora o terceiro caso. Afirmaremos que a inteligência participa da beleza em grau maior do que o gênero do prazer, para que possamos considerá-la mais bela do que este, ou será o contrário disso?
Protarco – Porém ninguém, Sócrates, em nenhum tempo, nem em sonhos nem acordado, viu ou imaginou de algum jeito a inteligência ou a sabedoria como sendo ou tendo sido ou podendo tornar-se feia.
Sócrates – Certo.
Protarco – E o contrário disso: quando vemos alguém, seja quem for, entregar-se aos prazeres, sobretudo os maiores, e notamos o ridículo e a vergonha daí decorrentes, nós mesmos nos acanhamos e o escondemos quanto possível da vista dos outros, só confiando à noite deleites dessa natureza, como se a luz não devesse presenciá-los.