genesis

gr. γένεσις, génesis.- nascimento, passagem ao ser, tornar-se (oposto a ser), processo, passagem a um contrário, mudança substancial. A geração é uma das duas transformações fundamentais, que afetam a própria substância: geração, que faz aparecer uma nova substância, e corrupção (phthorá), que a destrói. As outras transformações são mudanças na substância, que continua a mesma (v. kínesis). [Gobry]


No horizonte da natureza (φύσις), o encaminhamento (γένεσις) de um estado originário (ἐκ τινός) para um estado acabado (τέλος) em que um qualquer ente natural (τι τῶν φύσει ὄντων) se torna (ουσία), aquilo a que ele chega (εἴς ὅ ἔρχεται) é um processo que está constantemente a processar-se. O substrato (ὑποκείμενον) detém em si sempre (ἀεί) a natureza (φύσις) que o constitui, é sempre aquilo que desde sempre foi. Quer dizer, a natureza (φύσις) ao ser definida segundo o sentido (λόγος) é a estrutura que fomenta a tenção tendencial para que algo se torne aquilo que desde sempre foi e seja aquilo que é de uma forma acabada. Aquilo para o que a natureza (φύσις) tende é a natureza (φύσις). A natureza (φύσις) é o que dá origem ao processo de transformação que leva qualquer coisa a tornar-se acabada: é, portanto, aquilo em vista do que (οὗ ἔνεκα, τέλος) há uma geração (γένεσις). [CaeiroArete:293]


No interior do ente, que é determinado pelo devir, Aristóteles distingue três possibilidades: τῶν δὲ γιγνομένων τὰ μὲν ϕύσει γίγνεται τὰ δὲ τέχνῃ τὰ δὲ ἀπὸ ταὐτομάτoυ (Metafísica VII, 7; 1032a12ss.). “Daquilo que vem a ser, temos por um lado φύσει (segundo a natureza) – aquilo que pode produzir a si mesmo – e, por outro, aquilo que é por meio da τέχνη (arte); por fim, temos ainda aquilo que acontece contingentemente.” No que diz respeito ao que acontece de maneira contingente, Aristóteles pensa, sobretudo, nas monstruosidades, ou seja, naquilo que é propriamente contrário à natureza, mas que, contudo, em certo sentido também vem a ser, por sua vez, por si mesmo, φύσει (por natureza). Os modos do vir-a-ser, que não são os modos da natureza, são denominados por Aristóteles ποιήσεις (de acordo com a produção), αἱ δ᾽ ἄλλαι γενέσεις λέγονται ποιήσεις (a26ss.). Por meio de uma tal ποιήσις (produção) vem a ser ὅσων τò εἶδoς ἐν τῇ ψυχῇ (b1), “tudo aquilo cujo aspecto se encontra na alma”. Precisamos considerar mais atentamente esse ponto, para compreendermos em que medida a τέχνη (arte) possui em certa medida e, em certa medida, não possui a ἀρχή. Por exemplo, na τέχνη ἰατρική, o que se mostra como ο εἶδος ἐν τῇ ψυχῇ (ο aspecto na alma) é a saúde, na oἰκοδoμική, a casa. Se uma casa deve ser construída, então a realização fundamental da reflexão – da τέχνη (arte) – deve possuir a seguinte estrutura: uma vez que a casa deve se apresentar de tal e tal forma, é necessário para tanto que tais e tais coisas se encontrem presentes. Em meio à reflexão principial, a τέχνη (arte) é εν τη ψυχη (na alma) um ἀληθεύειν (desvelamento), um desencobrir – aqui, em b6, um voelv (pensar) –, um ἀποφαίνεσθαι, um deixar ver aquilo que deve ser produzido. E o que é desencoberto aqui na alma e está presente nela é ο εἶδος (aspecto) da casa, o aspecto, a “face”, tal como ela deve se encontrar aí: aquilo que constitui sua presença propriamente dita. Esse εἶδος (aspecto) é antecipado ἐν τῇ ψυχῇ (na alma) em meio a uma προαίρεσις (deliberação). Pois a casa, que deve ser produzida, ainda não está presente. A expressão τò εἶδος ἐν τῇ ψυχῇ (ο aspecto na alma) tem em vista essa antecipação do εἶδος (aspecto) na ψυχή (na alma). Em alemão, temos uma boa expressão para tanto: o aspecto é vergegenwärtigt (presentificado). A casa que, por um lado, deve se tornar presente é anteriormente presentificada segundo o modo como deve se mostrar. Essa presentificação da casa é um desencobrimento do εἶδος ἄνευ ὕλης (aspecto sem matéria – cf. b12). A madeira e as coisas desse gênero ainda não se encontram aí. De certa maneira, mesmo a ὕλη (matéria) está presente em meio a essa reflexão: com base na planta de construção, também se delibera precisamente sobre o material. Mas a ὕλη (matéria) na expressão ἄνευ ὕλης (sem matéria) precisa ser compreendida em um sentido ontológico: a ὕλη (matéria) não está presente em sentido próprio na τέχνη (arte). A ὕλη (matéria) só se encontra propriamente aí, na medida em que ela é aquilo a partir de que se dá a subsistência da casa pronta em seu estar pronto e aquilo que constitui o presente propriamente dito da casa pronta. Ela é τò ἔσχατον καθ’ αὑτó (cada coisa segundo ela mesma), aquilo que não precisa ser primeiramente produzido, mas que já se acha disponível para; e, em verdade, de tal modo que é ela que traz ο ποιούμενον propriamente ao presente, ἐνυπάρχει γὰρ καὶ γίγνεται αὕτη (b32ss.). “Pois é a ὕλη (matéria) que está concomitantemente [45] aí e que vem a ser.” Portanto, em meio à reflexão, a ὕλη (matéria) não está presente ἐν τῇ ψυχῇ (na alma), na medida em que ela ενὑπάρχει, na medida em que ela “está concomitantemente presente”; ou na medida em que ela γίγνεται, na medida em que é ela que propriamente “vem a ser” ou que traz algo para o presente propriamente dito. [Heidegger, GA19:42-43]


LÉXICO: