genos

génos: espécie, gênero

Genos é geralmente usado em Platão como sinônimo de eidos, v. g., Soph. 253b, e noutros lugares como «tipo», aproximando-se do genos aristotélico, v. g. Teeteto 228e e Soph. 253d, onde a dialética tem que ver com a divisão das formas de acordo com a «espécie» (genos); comparar a «reunião» (synagoge) numa «forma» genérica, Fedro 265d, mas isto é ainda provavelmente mais ontológico do que predicacional. Genos aristotélico: Aristóteles, Top. 102a-b, 120b-128b. Para Aristóteles as kategoriai são os gene do ser (De anima II, 412a), os summa genera que não podem ser subsumidos a nada mais geral (ver Anal. post. II, 100b, Metafísica 1014b). No Soph. 254d Platão discutiu «os gene mais importantes» (Existência (ousia), movimento, repouso, mesmidade, diferença; ver eidos, psyche tou pantos), e Plotino, nas Enéadas VI, 1-3, ao que parece combinou estes gene com os modos aristotélicos de predicação (kategoriai) e criou os gene do ser; ver eidos, diaphora, katholou. [Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters]


génos (tó) / genos: gênero. Latim: genus. Plural: gene (ta) / gene.

Do verbo gígnomai / gignomai, nasço, venho a ser, existo. No primeiro sentido, génos é raça, gênero no sentido de gênero humano. No segundo sentido, filosófico, designa um mesmo gênero de seres.

Esse termo, pouco definido, compreende de qualquer maneira: ou um grupo de seres humanos, pelo sangue e pela função: “a raça dos deuses” (Platão, Fédon, 43b); ou um conjunto de seres: Platão opõe dois gêneros de produção: as produções da natureza, que podemos dizer divinas, e as da arte humana (Sofista, 25 6e); ou (e chegamos à filosofia) uma essência (metafísica) ou um gênero (lógico).

Em Timeu (39e-40a), Platão distingue quatro espécies de viventes: a dos deuses, a dos pássaros, a dos peixes e a dos viventes terrestres; em República (V, 477c-e), são gêneros de faculdades mentais (dynámeis). Mais séria é a distinção dos cinco gêneros supremos no Sofista (254b-256d), ao mesmo tempo metafísica e lógica: Ser (ón), repouso (stásis), movimento (kínesis), o mesmo (auto) e o outro (héteron). v. todas essas palavras. Aliás, Platão designa também esses diferentes gêneros com a palavra eidos (essência e espécie).

Aristóteles dedica uma nota à palavra génos em seu pequeno vocabulário filosófico (Met., A, 28), no qual ele atribui a essa palavra todos os sentidos correntes: raça, espécie, essência. Em Categorias (V), coloca o termo na nota dedicada à substância (ousía), pois distingue a substância primeira (próte), que é o indivíduo, e a substância segunda (deútera), essência, gênero ou espécie (eidos); ora, a espécie está submetida ao gênero (o gênero é comum às espécies) e assim está próxima (menos segunda) da substância primeira. Em Física (I, 6), considera a própria substância um gênero do ser (génos toû óntos). Em Tópicos (I, 4-5), Aristóteles põe o gênero entre os predicáveis, ou seja, os objetos sobre os quais versa o raciocínio, com a definição (hóros), o próprio (ídion) e o acidente (symbebekós); e define o gênero como: “Um atributo que pertence essencialmente a várias coisas especificamente diferentes.”

Plotino escreveu três tratados sobre os gêneros do Ser: Peri genôn (VI, I, II, III). O primeiro é uma crítica minuciosa das dez categorias de Aristóteles, que são afastadas como gêneros; o segundo é uma análise dos cinco gêneros supremos de Platão, que são adotados; o terceiro é uma aplicação das categorias ao mundo sensível, onde tampouco encontram graça.

Porfírio publicou um opúsculo famoso, chamado Isagoge (eisagogé), ou seja, introdução às Categorias de Aristóteles. Os cinco “predicáveis” são: gênero, espécie, diferença, próprio, acidente; v. kategoría. As espécies (eíde) são subordinadas aos gêneros, ao mesmo tempo que têm diferenças entre si; assim, uma definição (horismós) deve ser feita pelo gênero e pela diferença específica. De modo mais sutil, ela deve recorrer à imbricação entre gêneros e espécies; e a árvore de Porfírio, com o seguinte exemplo:

Substância (= gênero supremo) → corpos → corpo animado → animal → animal racional → homem (espécie especialíssima) → Sócrates (indivíduo).

Entre o gênero supremo e o indivíduo, pode-se chamar cada conceito de espécie, porquanto contido no gênero superior, e de gênero, porquanto contém a espécie inferior.

Sexto Empírico dedicou-se a acrobacias erísticas para contestar as noções de gênero e espécie (Hipot., II, XX). [Gobry]

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