ananke (Gobry)


anánke (he): necessidade. Latim: necessitas.

Primitivamente: “decreto inexorável dos deuses” (Empédocles, fr. 125 e 126).

Empregado depois em sentido filosófico (Platão, Aristóteles, Epicuro, estoicos).

Aristóteles dedica uma nota à anánke em seu léxico filosófico, (Met., A, 5) na forma do qualificativo neutro anankaion: o necessário. E dá cinco sentidos:

– Condição (synaítion). Ex.: alimento para o ser vivo, que não pode subsistir sem ele.

– Coerção (bía).

– Impossibilidade de ser de outro modo: é a mãe das necessidades.

– Necessidade lógica, extraída da demonstração; é apódeixis.

– Necessidade metafísica. Aristóteles diz: o simples (tò ha-ploûn).

De fato, está ligado aos seres eternos e “imóveis” (ou seja, sem mudanças). Encontra-se, aliás, essa necessidade na oposição entre o ser necessário, sempre semelhante, e o ser por acidente, fadado à mudança (Met., E, 2). O mesmo ocorre para encontrar a existência do primeiro Motor; tudo é movido por outro, e não por si mesmo; ora, do movido ao motor (do efeito à causa), não se pode remontar infinitamente; “é, pois, necessário parar”. É o famoso anánke hístasthai (Fís., VIII, 5).

Platão, como de hábito, não apresenta uma exposição didática sobre esse termo. Emprega-o nos sentidos mais diversos: de destino, para a sorte das almas (Fédon, 86c); de inclinação entre os sexos (Rep., V, 458d); de coerção política (Rep., V, 519e); de determinismo cósmico (Fédon, 97e; Pol, 269d; Timeu, 46e); de necessidade metafísica (Fédon, 76 d-e; Fedro, 246a; Timeu, 42a). Aristóteles distingue a necessidade matemática (a soma dos ângulos do triângulo é igual a dois ângulos retos), que é de ordem racional, e a necessidade física, que é de ordem sensível (Fís., II, 9).

Os estoicos utilizam abundantemente a noção de anánke, pois, em seu sistema, tudo é necessário; e a necessidade é ao mesmo tempo metafísica e cósmica, pois, como Deus é ao mesmo tempo o mundo, a necessidade de sua existência pertence às duas ordens. “Tudo o que ocorre — escreve Marco Aurélio — é necessário (II, 3).”A Inteligência universal tomou uma única decisão, e tudo decorre dela por via de consequência (V, 10;VI, 9; VIII, 5; IX, 28). Sábio é “aquele que tem a virtude de se submeter à necessidade” (Epicteto, Manual, LIII, 2).

Epicuro construiu sua sabedoria com base na distinção dos prazeres: uns são naturais e necessários; outros naturais, mas não necessários; outros não são naturais nem necessários (Máximas, 29). [Gombry]