arkhé (he) / arche: princípio. Latim: principium.
Causa original, Realidade primeira da qual procedem as outras no universo. Essa palavra pode ter dois sentidos:
– cosmológico: o Princípio é então um corpo material (pré-socráticos);
– metafísico: o princípio é então uma Realidade impessoal, que pode assumir o nome de Mónada (Pitágoras), de Uno (Parmênides, Plotino), de Essência (Platão).
Platão, que emprega abundantemente a palavra arkhé, dá uma definição dela em Fedro (245c-d):”0 Princípio é o Inengendrado (agéneton), pois é necessário que tudo o que vem do ser venha a partir de um princípio, ou seja, daquilo que não procede de nada.” Portanto, é aquilo que está primeiro na existência e engendra a sequência dos outros seres.
Aristóteles definiu o Princípio, mas de modo bastante vago. Em Metafísica (A, 1), dedica a essa palavra a primeira de suas notas. Atribui-lhe cinco sentidos:
– ponto de partida (de uma linha, de uma rota); há então um princípio simétrico, que é o ponto de chegada;
– o melhor começo (arte pedagógica);
– o que é primeiro e imanente no devir (fundações de uma casa);
– a causa não imanente que precede (o pai e a mãe para o filho);
– a vontade livre de um ser racional (princípio dos acontecimentos) .
Em Física (I, 1, 184a), procedendo à história das teorias, Aristóteles atribui aos elementos primeiros entre os jônios (os Fisiólogos) o nome de princípios. Em Metafísica (A, 5), ele o atribui às grandes realidades originais de certos filósofos anteriores a ele: o Número em Pitágoras, o Uno em Xenófanes, o Ser em Parmênides.
Para os primeiros jônios, chamados por Aristóteles de Fisiólogos, o Princípio é um elemento cósmico.
O primeiro deles,Tales de Mileto, declara que é a Água (Aristóteles, Met., A, 3; Cícero, De nat. deor., I, 10, 23; Pseudo-Plutarco, Placit., I, 3; D.L., I, 27). Aristóteles atribui essa “descoberta” à observação, lembrando que a primeira mitologia grega vê o Oceano como origem do mundo; Nietzsche declara que essa é uma ideia genial. Na verdade, é uma simples herança das cosmogonias orientais. Tales era de origem fenícia e conhecia bem os mitos semíticos. A Cosmogonia caldeia, livro sagrado da tradição babilônica, do qual Damáscio e Berósio conservaram alguns fragmentos, afirma: “Na origem, a totalidade dos territórios era mar.” O Enuma Elis, outra narrativa babilônica sobre a criação, diz: “Quando no alto o céu não era denominado, quando embaixo a terra não tinha nome, do oceano Apsu, pai deles, e de Tiamat, a tumultuosa, mãe de todos, as águas se confundiam em Um.” O Livro dos mortos, que é o texto mais antigo do Egito diz: “No começo, só havia o Noun, abismo da água primordial”; ora, a Fenícia dominou culturalmente o Egito a partir do terceiro milênio; de qualquer modo, Tales passou algum tempo no Egito, onde recebeu os ensinamentos dos sacerdotes (D.L., I, 27).
O sucessor de Tales na direção da Escola de Mileto, Anaximandro, escolheu como Princípio originário o indeterminado (ápeiron / apeiron). (v. essa palavra). O terceiro chefe da escola,Anaxímenes (f526), estabeleceu como primeiro princípio o ar (aér / aer).Tem-se aí também um velho mito fenício. Encontra-se essa teoria em Diógenes de Apolônia (século V). Por fim, Hípaso de Metaponto (século VI) e Heráclito de Éfeso (f480) adotam como primeiro Princípio o fogo (pyr).
Os itálicos, filósofos de origem jônia, mas instalados no Sul da Itália (Magna Grécia), apresentam Princípios metafísicos. Para Pitágoras, é o Número, porém mais precisamente a Mônada, Unidade original do ser. Para Xenófanes (século VI), o Uno primeiro é um Deus único e incorpóreo; para Parmênides, seu discípulo, é o Ser, Uno no sentido de Único, pois ele não admite nenhum outro; para Anaxágoras, o Princípio original é duplo: uma matéria informe inerte e um Espírito absoluto dinâmico que dela extrai o universo em sua variedade. Para Empédocles, são o amor (philótes / philotes) e o ódio (neikos / neikos), mas na medida em que unem e desunem os elementos preexistentes, que são os quatro clássicos, v. stoikheia. Platão não tem posição fixa: as Essências, tomadas coletivamente, no Fédon; o Ser no Sofista; o Bem na República; Deus nas Leis. Em Aristóteles, o Princípio é o primeiro Motor, que se confunde com a Inteligência e o Bem (Met., A, 6-7). Mas, no que se refere aos seres da Natureza (tà physei ónta), ele considera três princípios: a matéria (hyle), a forma (morphé / morphe) e a privação (stéresis / steresis) (Fís., I, 7). Em Plotino, o Princípio é o Uno, que é ao mesmo tempo o Bem. (Gobry)