Sócrates — Nesse caso, tu também te colocas à disposição de qualquer pessoa para responder às perguntas que lhe aprouver dirigir-te?
Polo — Perfeitamente.
Sócrates — Escolhe, pois, o que quiseres: responder ou perguntar.
XVII — Polo — É o que vou fazer. Então responde-me, Sócrates: já que és de parecer que Górgias não soube dizer o que é retórica, que achas que ela seja?
Sócrates — Perguntas que espécie de arte eu presumo que ela seja?
Polo — Justamente.
Sócrates — Não é arte de espécie alguma, Polo, para dizer a verdade.
Polo — Então, que te parece que seja?
Sócrates — Algo a respeito do que afirmaste que tinhas feito uma arte, segundo li recentemente num escrito teu.
Polo — Que queres dizer com isso?
Sócrates — É uma espécie de rotina.
Polo — Achas, então, que a retórica seja uma rotina?
Sócrates — É o que penso, se não tiveres nada a objetar.
Polo — Rotina, de que espécie?
Sócrates — Para produzir prazer e satisfação.
Polo — E não te parece uma bela coisa a retórica, se é capaz de proporcionar prazer aos homens?
Sócrates — Que é isso, Polo! Já me ouviste dizer o que na minha opinião é a retórica, para me perguntares agora se não a considero uma bela coisa?
Polo — Não fiquei sabendo que a consideras uma espécie de rotina?
Sócrates — Já que tanto gostas de comprazer aos outros, não quererás porventura proporcionar-me um pequenino prazer?
Polo — Com todo o gosto.
Sócrates — Então, pergunta -me que espécie de arte, a meu ver, é a culinária.
Polo — É o que passo a fazer: que arte é a culinária?
Sócrates — Nenhuma, Polo.
Polo — Que é, então? Explica-te.
Sócrates — Direi que é uma espécie de rotina.
Polo — Rotina, de que jeito? Fala.
Sócrates — Pois direi, Polo, que proporciona prazer e satisfação.
Polo — Então, culinária é a mesma coisa que retórica?
Sócrates — De forma alguma; ambas são partes da mesma atividade.
Polo — A que atividade te referes?