Sócrates — Então, escuta a recapitulação que vou fazer de todo o argumento. Será uma só coisa o agradável e o bom? Não, de acordo com a conclusão a que eu e Cálicles chegamos. Devemos fazer o agradável em vista do bem, ou o bem em vista do agradável? O agradável em vista do bem. Agradável, porém, não será aquilo cuja presença nos deixa bons pelo fato de sua presença? Perfeitamente. Ora, não somos bons, nós e tudo o mais que é bom, pela presença de alguma virtude? É o que me parece incontestável, Cálicles. Mas, a virtude de qualquer coisa, seja instrumento, corpo ou alma, seja criatura viva, não lhes vem por acaso e já completa; é o resultado de uma certa ordem, de retidão e da arte adaptada à natureza de cada um. Será assim mesmo? Eu, pelo menos, o afirmo. Logo, é por meio da ordem que se promove devidamente a virtude de cada coisa? Responderia do mesmo modo. Por isso, uma espécie de ordem inerente a cada coisa é que a deixa boa com a sua presença? É o que me parece. E a alma que tem a sua ordem peculiar, não é melhor do que a que for desordenada? Necessariamente. E a alma em que há ordem, não é bem regulada? Como poderia deixar de sê-lo? E a bem regulada, não é temperante? Seguramente. Logo a alma temperante é boa. Eu, pelo menos, meu caro Cálicles, nada tenho a objetar contra semelhante proposição. Se tiveres algo a dizer, ensina-me.
Cálicles — Continua, amigo.