O mito das raças segue o mito de Pandora no início de Dos Trabalhos de dos Dias (v. 109-201) encadeando cinco episódios aparentemente articulados de maneira clara e coerente. No tempo de Kronos, os Imortais do Olímpio criaram uma primeira raça de homens mortais em ouro que viviam como deuses, desnudados de toda preocupação, pois não conheciam a velhice; a morte os levava docemente em seu sono. A terra produzia então colheitas generosas, sem esforço, e cada um vivia na paz entre numerosos bens. Zeus transformou os homens desta raça em sua disparição em “demônios epictonianos” que guardam sobre a terra os mortais. Em seguida os habitantes do Olímpio criaram uma raça de prata que nada tinha de comum com a precedente, votada à medida (dike), nem pelo crescimento nem pelo pensamento. Os filhos cresciam durante cem anos ao lado de suas mães, depois, caindo na desmesura (hybris), acabavam morrendo após a adolescência. Eles não rendiam culto aos Imortais nem não faziam sacrifícios aos Bem-aventurados segundo a “lei” (themis) que governa todos os homens. A sua morte, Zeus o Kronida deles fez demônios inferiores, “hipoctonianos”, que têm sua morada sob a terra. A separação das idades de Kronos e de Zeus se efetua, como se vê, ao final da idade de ouro posto que os primeiros homens viviam no reino de Kronos e que as duas raças são transformadas por Zeus cuja realeza começou.
O Pai dos deuses criou então, só, uma terceira raça, aquela de bronze, que se livra como a raça de prata a uma louca desmesura (hybris) no curso de seus perpétuos combates. Os guerreiros não conhecem o trigo e vivem em um mundo de violência onde tudo, das armas às casas, é feito de bronze. Eles acabarão por cair sob seus próprios golpes e descerão ao Hades sem deixar qualquer nome. A quarta raça, de novo devida ao filho de Kronos, é mais justa e mais brava que a precedente. Trata-se da raça dos heróis, ou dos semideuses, que precedeu a idade atual onde viveu Hesíodo sobre a “terra sem limites”. Eles morrerão corajosamente em Tebas, em Cadmos ou em Troia, e Zeus recompensará os melhores dentre eles nos estabelecendo nas ilhas dos Bem-aventurados “nos confins da terra”. Enfim a quinta raça de homens, entre os quais o poeta se desola de viver, é a dura raça de ferro. Eles sofrem fatigas de dia e angústias de noite, e se afundam pouco a pouco em um mundo de injustiça e de excesso (hybris) onde os pais, os amigos e os hóspedes não são mais respeitados. Diante esta miséria universal, Aidos e Nemesis, “Honra” e “Pudor”, deixarão para sempre a terra para subir para os Imortais, deixando a última raça ao abandono. Os ciclos são cumpridos: não haverá mais qualquer recurso contra o mal que envadiu todo o campo da existência humana.