JOUBAUD, Catherine. Le corps humain dans la philosophie platonicienne. Étude à partir du Timée. Paris: Vrin, 1991.
Que estatuto Platão acorda ao corpo humano? No seio do composto que é o homem, o corpo é interpretado de maneira certamente negativa na primeira filosofia platônica. O que é ele senão essencialmente um obstáculo ou uma carga? Ora, o Timeu representa um rompimento claro no curso do pensamento platônico que renova; neste sentido, ele abre perspectivas totalmente outras. Com efeito, a problemática é radicalmente nova: além da história do mundo tal qual é sistematizada na primeira parte, trata-se de investigar a origem da espécie humana e dela expôr a história. Para isso, ela se apoia na ciência mais contemporânea e ele põe em obra a matematização do universo.
A questão do corpo se inscreve então, no interior do Timeu, no quadro geral de uma cosmologia, exposição que se quer “a melhor possível” e cuja verosimilhança é tanto mais certa quanto faz intervir dados científicos mais recentes e mais seguros, em particular dados mecânicos; isto garante à exposição platônica certa autoridade na medida que está de acordo com estas leis e fatos. A gênese e a organização do mundo sensível repousam sobre um processo matemático e ao mesmo tempo se integram a uma estrutura filosófica complexa, posto que a finalidade ou a teleologia subentende o relato. Também a fim de visar a significação do corpo no conjunto do corpus platônico, é preciso determinar o que recobre a acepção do termo corpo no Timeu.
[…] Com efeito, o corpo enquanto entidade chamada a formar com a alma uma globalidade jamais suscitou interesse particular da parte de Platão. […]Podemos destacar três eixos interdependentes:
1) Qual é a natureza do corpo do ponto de vista físico e em primeiro lugar, sua estrutura física e orgânica? […]
2) Mas esta estrutura responde a uma razão? A natureza humana é então considerada de um ponto de vista moral. A significação última do corpo, por conta de sua estrutura mesma, se encontra fora dele: para poder manifestar a alma, para dela ser a epifania, a estrutura corporal deve se harmonizar àquela da alma que o anima; com efeito o corpo não pode ser dito humano senão quando a alma está presente nele. […]
3) A análise do corpo é conduzida tendo sempre em conta remédios, quer dizer aplicações à higiene, à educação e à moral. […] […] É certo que o quadro da investigação inclui a alma: o problema de seu destino é posto muito rapidamente, bem antes do estudo do corpo. Nossos erros, de qualquer ordem que sejam, dependem de um ou do outro, ou dos dois ao mesmo tempo? O que leva a se questionar como o corpo pode deixar ou impedir o divino de se manifestar no homem?