A Sofística encontrou sua superação em Sócrates, que trouxe de novo a filosofia à via da verdade, isto é, fê-la voltar a ser filosofia, em um momento em que ameaçava dissolver-se em retórica. Mas Sócrates, inimigo dos sofistas em sua dimensão antifilosófica e falsa, recolhe deles seu interesse primordial pelo homem, sua preocupação ética. A moral, o conhecimento do homem, é este o grande tema socrático: Gnothi Sauton, “conhece-te a ti mesmo”. Desse momento em diante, a investigação acerca do ente humano cobrará na Grécia um desenvolvimento antes desconhecido.
Em primeiro lugar, Sócrates inverte um tanto os termos da questão. O homem de que agora se trata não é mais o cidadão, definido por sua dimensão política e, especialmente, por sua capacidade de falar e persuadir. O logos, que em mãos dos sofistas é, sobretudo, discurso político, retórica que aspira produzir uma opinião, significará em Sócrates o dizer, no qual o que mais importa é o dito. Não simplesmente falar, e sim dizer o que as coisas são; em outros termos, pô-las na verdade, e viver assim — humanamente — nela. O homem socrático, portanto, é o homem real, é cada homem, que se pode conhecer, que pode manifestar sua intimidade e torná-la patente, na luz. A fecundidade deste interesse pelo homem mesmo é grande e duradoura: a rigor, começa com Sócrates a especulação helénica sobre o humano enquanto tal; tudo o mais foram apenas esboços imaturos.
O homem socrático é capaz de saber; e saber é, propriamente, definir, dizer o que (Ti) são as coisas. O que Sócrates pede é a definição, o verdadeiro conhecimento das essências. E, antes de tudo, o homem pode saber o que é bom: nisto consiste a ética, que para Sócrates é, rigorosamente, ciência, algo que se pode aprender e ensinar. O homem deve conhecer-se a si mesmo, conhecer sua virtude, aquilo para o que nasceu, e, por conseguinte, seu bem. É esta a moral socrática, ligada essencialmente ao saber, tal como aparecerá na filosofia platônica-aristotélica posterior.
Sócrates nada escreveu: não possuímos textos seus, e conhecemos seu pensamento só por referências indiretas e, sobretudo, por suas conseqüências. Em primeiro lugar, Sócrates inspira em boa parte o pensamento platônico, e encontra nele sua verdadeira realização filosófica; em segundo lugar, Xenofonte também está dominado por sua influência. Por outro lado, a moral socrática tem prosseguimento, em forma diversa, nas pequenas escolas socráticas (cínicos e cirenáicos) e especialmente nas filosofias da época helenística, o epicurismo e o estoicismo.
Sobre Sócrates, à parte das Memoráveis, o Banquete e a Apologia de Xenofonte, e dos diálogos platônicos, em especial os da primeira época (Apologia, Críton, Fédon), se podem consultar alguns livros modernos: Karl Joel: Der echte und der xenophontische Sokrates (1893-1901); Henrich Maier: Sokrates (1913); John Burnet: GREEK PHILOSOPHY THALES TO PLATO (1920); Xavier Zubiri: Sócrates y la sabiduría griega (1940).