Kingsley: Poema de Parmênides – 2

Resumo de KINGSLEY, Peter. Reality. Inverness: The Golden Sufi Center, 2003, p. 60-63.

Sem sentido é o que este fragmento soa. E sem sentido é o que ele é, porque nada há aqui que tenha que ver com nosso mundo familiar dos sentidos. O que Parmênides está dizendo vem de outro mundo.

As pesquisas arqueológicas na cidade natal de Parmênides, Velia, indicam sua associação aos chamados iatromantis e aos procedimentos de iniciação destes curandeiros-profetas como seguidores de Apolo. A linguagem dos iatromantis é uma forma de expressão em charadas, assim como os oráculos de Apolo eram sempre sobre a forma de charadas.

Ao mesmo tempo era prática se utilizar expressões dos grandes do passado, como Homero ou Hesíodo. Assim a expressão “um caminho do qual nenhuma notícia retorna”, significaria algo muito específico para qualquer grego daquela época. Naqueles dias ouvir notícias sobre alguém era considerado prova de que a pessoa estava viva. O silêncio dizia morte; e na poesia de Homero qualquer um sobre “nenhuma notícia retorna” era simplesmente alguém que se assumia estar morto.

Por esta razão o caminho do “não é” de Parmênides, do qual nenhuma notícia retorna, é o caminho levando ao silêncio da não-existência e morte. Se a isto adicionarmos que para os gregos, assim como para nós, “não ser” é um modo velado mas autoevidente de referir à morte, e teremos a figura completa.

Parmênides foi conduzido ao submundo, pelo caminho da morte, e da deusa que o acolhe recebe a mensagem a ser trazida a respeito dos dois caminhos. Caminhos estes já reconhecidos pela antiga iniciação dos seguidores de Apolo: um caminho que conduz à vida real, à verdade (aletheia) e outro que conduz ao esquecimento (lethe) e morte, a se sucumbir no silêncio da não-existência.

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