Joachim Lacrosse em seu livro «La philosophie de PLotin» esclarece sobre o termo «noûs» e sua função quase encantatória no texto de Plotino, entre nuances semânticas e proximidades fonéticas da família de termos e formas verbais derivadas de noûs e noein — proximidades e nuances com as quais o texto não para de jogar no coração mesmo da exposição de sua doutrina, como para fazer um espelho desta doutrina. Assim ele prefere traduzi-los por: noûs = «intelecto»; noein = «inteligir»; noeton = «inteligível»; noesis = «intelecção»; noeron = «intelectual; nooumenon = «o que é inteligido»; nooun = «o que intelige»; dianoia = «inteligência discursiva»; noema = «produto da intelecção» e assim por diante os demais termos aparentados. Assim a família de termos derivados do latin «intellectus» e «intelligere» fornece um equivalente para cada termo grego da família noûs e noein.
Lacrosse ainda afirma que noûs (intelecto) é um termo que designa um dos conceitos mais importantes do conjunto da filsoofia grega. Isto vale também e a fortiori para a metafísica de Plotino, que, no crepúsculo da história desta filosofia, constitui uma síntese das ideias avançadas por seus predecessores. Em cada livros das Enéadas, e mesmo em cada capítulo até cada enunciado, é sempre questão, de uma maneira ou de outra, do intelecto.
Numerosas passagens das Enéadas fazem referência ao noûs, entre as quais se indicará logicamente em primeiro lugar os tratados que foram reunidos por Porfírio na Enéada V, consagrados ao ser e ao intelecto. Mas como indica uma nota feita pelo mesmo Porfírio a respeito destes tratados da Enéada V consagrados ao intelecto, aí se encontram também numerosos desenvolvimentos que concernem o princípio que está além do intelecto, quer dizer o uno, assim como o intelecto que está na alma (Vita XXV, 32-35). A Enéada VI, por outro lado, reúne os tratados consagrados por um lado ao ser — uma noção estreitamente associada àquela do intelecto — e por outro ao uno — que, na maior parte do tempo, aí é visualizado em sua relação a este mesmo intelecto. Quanto às quatro primeiras Enéadas, onde Porfírio reuniu tratados que se ocupam de moral, física e psicologia, eles põem constantemente em uso, em sua busca do uno, a conversão da alma e do mundo sensível para o princípio inteligível e intelectual de sua produção, quer dizer, ainda e sempre, o intelecto. Suficiente dizer que uma obra sobre o noûs plotiniano deve articular os textos da Enéada V com o conjunto da obra.