Excertos de “O Timeu de Platão: mito e texto”, por Rodolfo Pais Nunes Lopes
1.1 Autenticidade
No caso concreto do Timeu, esta questão (muito delicada em alguns diálogos) praticamente nem se coloca, pois é e sempre foi tido por autêntico. Na verdade, ao longo dos séculos, a única voz discordante foi a do filósofo alemão Friedrich Schelling, tendo, porém, mais tarde mudado de opinião e assumido que errara ao supor que o Timeu não era de Platão1.
Com efeito, desde muito cedo que o diálogo é atribuído a Platão, a começar desde logo pelos tempos da Academia antiga; também o próprio Aristóteles, em diversas ocasiões, se refere ao diálogo, citando e comentando algumas passagens, dizendo, por vezes, muito claramente que essa obra pertence a Platão; igualmente Teofrasto lhe atribui a autoria sem hesitações. Além disso, como veremos posteriormente na secção relativa à transmissão e recepção do Timeu, a associação das ideias ou teorias nele expostas são amiúde identificadas, mais direta ou indiretamente, com as de Platão, pelo que deveremos concluir que a questão da autenticidade não tem quaisquer fundamentos sequer para ser formulada.
Sobre este assunto, vide Taylor (1928, p. 1). ↩