Qualquer diálogo de Platão, ou, em última análise, qualquer obra da Literatura Grega, exige, primeiro que tudo, um conjunto de observações preliminares que, de algum modo, a contextualizem e, simultaneamente, a introduzam. Porém, a delimitação dos vectores de análise a que essa obra pode ser submetida são de tal forma numerosos e díspares que seria impensável resumi-los a tão reduzido número de páginas, além de que uma tentativa dessa natureza correria seriamente o risco de redundar num exercício de diletantismo.
Conscientes, portanto, da necessidade de balizar os aspectos a ter em conta nesta secção preambular, consideramos necessário dividir essas observações em dois grupos distintos: aspectos extra-textuais (1.) e aspectos temático-estruturais (2.). No primeiro caso, o objectivo será discorrer brevemente sobre algumas questões de natureza histórica que se prendem com as circunstâncias em que o texto foi produzido e, posteriormente, tratado – literal e metaforicamente – até aos nossos dias, particularmente no que concerne à sua autenticidade (1.1), à data (1.2) em que foi redigido (data real de composição) e também à que a ação se reporta (data dramática); à posição do diálogo no cânone das obras de Platão (1.3 Cronologia absoluta) e no grupo daquelas com que forma uma secção desse cânone (1.4 Cronologia relativa); e, finalmente, à transmissão do texto e sua subsequente recepção (1.5). Quanto à segunda parte, dirigida ao texto propriamente dito, nela abordaremos apenas três aspectos que consideramos serem de fundamental importância para a sua compreensão e que, por razões óbvias, não poderão ser tratados na anotação que segue a tradução: a tradição em que o Timeu se inscreve (2.1), as personagens que nele participam (2.2) e, por último, a forma como os assuntos estão estruturados (2.3).