MITOLOGIA GREGA – MÁSCARA DE DIONISO
Excertos de René-André Lombard, “L’Enfant de la nuit d’orage”. Trad. e notas de Antonio Carneiro
Nós o temos : Em Delfos, centro de religiosidade primordial, em Lerné, em Argos, é Dioniso que foi morto por Perseu.
Indicação fundamental e perfeitamente clara : Dioniso e a Górgona representando a mesma entidade.
Compreende-se, desde logo, que se suspenda Cabeças de Dioniso no ar.
Compreende-se que Dioniso seja antes de tudo UMA MÁSCARA.
Compreende-se que essa máscara de Górgona, sobre as taças e os vasos seja continuamente ligada às outras representações de Dioniso, como testemunham as cerâmicas de Vulci)).
Poder lunar dirigindo a1, entrar em comunicação com a vibração secreta das coisas.
Muito tempo, mais tarde, entre os Celtas por exemplo, uma cabeça ritualmente cortada terá poder de adivinhação, espelhando esta Cabeça-Lua sem corpo, soberana das viagens da alma do outro lado do real aparente.
A máscara de Górgona dionisíaca é o que pode, com ou sem a ajuda da Hera2, a planta psicotrópica, acionar o delírio, o fluxo de imagens e o foguetório de energia incomum que arrumamos no capítulo da loucura3.
Poder temível, todo o mito de Dioniso está impregnado disso, que não é senão «sound and fury»4.
Existe tema mais «dramático» nas fontes do Teatro?
Atmosfera, a Tempestade, os Líquidos vitais, e mais tarde o Vinho, bebida de exaltação, desde quando foi inventado.
Dioniso é, entre outros aspectos, a CABEÇA QUE SE METAFORMOSEOU, nos traços e na forma de seu rosto, assim como em seu conteúdo «mental». Esta cabeça mutante pode deixar as margens do bom senso que impõe a vida corrente, passar de um impulso em Tailleurs((NT: “Tailleurs” a tradução linear é Talhadores, traz dificuldade para dar sentido, a alternativa é aludir aos Talhadores de Pedra citado em O Templo Herodiano:
“Em XIX a.C Herodes iniciou a reconstrução do Templo com forte oposição dos judeus, buscando resolver a situação “fez que mil sacerdotes fossem treinados como talhadores de pedra, carpinteiros e decoradores, certificando-se de que nenhuma mão profana tocaria o local sagrado” (Dicionário Wycliff,2007, p.1898) (O TEMPLO HERODIANO)
↩NT: Hera tradução de “Lierre” em francês no texto, cujo nome científico é “Hedera helix”, em inglês é “Ivy” e em espanhol “hiedra común”. Em “al Andalus” era uma planta muito apreciada e alguns poetas lhe dedicaram alguns versos “Dir-se-ia que suas folhas, em seu formoso verdor, estão feitas de esmeraldas, as mais formosas e brilhantes”.(Ibn al Jarraz).
É o nome da deusa Hera, podendo ser representada portando em sua mão uma romã, símbolo da fertilidade, sangue e morte; e um substituto para as cápsulas da papoula do ópio do gênero “papaver”. ↩MEN, MON, MOON, MIN ; Lua Mania, a exaltação lunar: a loucura, o «coup de lune», maníaco = lunático. Mainad, a lunar a possuída de Dioniso, a sacerdotisa em delírio. MENT, o mês, o cálculo, o mental. A « mental case »: um louco. E Man, uma… Cabeça pensante, um homem. ↩
NT: «sound and fury » em inglês no original, tradução: «som e fúria». O escritor William Faulkner escreveu uma novela (The Sound and the Fury) com esse título que atribuem ter sido tomado do ato 5, cena 5 da peça Macbeth escrita por Shakespeare. Existe uma possibilidade do autor ter usado esta expressão em inglês para aludir a algo relacionado.
And then is heard no more: it is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.E então não escutou mais: é um conto
dito por um idiota, cheio de som e fúria,
Nada significando.
↩