Mesquita (Platão:375-376) – chora

«Pura materialidade» só poderia, no entanto, significar para Platão, como já vimos, o «puro lugar» (χώρα); e a χώρα constitui para ele a pura condição, no sentido próprio do que constitui algo no seu caráter condicionado, i. e., a pura relativização, desprovida de toda a consistência própria e de toda a realidade, porque nada é em si mesma senão o puro momento abstracto do condicionar e do relativizar.

Tal significa que, em sentido próprio, a χώρα «não é»: pois só é enquanto relativização da ideia e, portanto, enquanto suposto universal do relativo, i. e., do devir. Mas declará-la um suposto é afirmar rigorosamente isso mesmo: que a χώρα tem de ser suposta pelo mesmo trajecto de evidenciação que exige a ideia e, portanto, que nesse trajecto ela tem de ser isso, mas não pode ser senão isso. Toda a posição que queira mais do que isso ou diferente disso não [375] se poderá limitar a contestar a consequência, mas terá necessariamente de refutar o trajecto no seu todo.

Ora, a requisição de uma prova da existência das ideias cujo modelo é finalmente o da χώρα, do «irreal» ou, no sentido vigente, do «inexistente», não tem manifestamente qualquer pertinência no horizonte platônico. Nesta medida, a existência não recebe no pensamento platônico nenhuma acepção que pudesse legitimamente acrescentar alguma coisa à sua simples postulação como «o que realmente é» e só à luz de um requerer que o desvirtua ou que secretamente aspira a que a ideia não fosse senão um particular perfeito pode uma tal exigência de prova fazer algum sentido.